3.5.13

ANTHONY GIDDENS: "Nunca encontrei o mundo tão opaco como hoje"

in RR

Sociólogo e ex-director da London School of Economics esteve no Estoril, onde afirmou que nem os economistas do FMI sabem o que vai acontecer no mundo e defendeu a necessidade de os governos ocidentais deixarem de ser arrogantes.

O também antigo director da London School of Economics (LSE) referiu que nem os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) sabem o que vai acontecer "no mundo económico", devido às transformações observadas a nível global que influenciam a vida dos cidadãos.

Giddens, que se auto-afirma um profundo defensor do euro e da União Europeia, defende que a Europa precisa de uma liderança mais democrática. A Alemanha, diz, tem de aceitar que a austeridade impede o investimento e a criação de emprego, sobretudo nos países do sul.

"A Alemanha está a ganhar muito por estar no euro. Por isso, eu penso que a Alemanha não vai perder se aceitar uma forma de parceria [entre os países] e isso pode gerar investimento nos países do sul, porque nós sabemos que são necessários investimento e emprego e isso não vai ser possível com a austeridade", disse à agência Lusa.

"Europeus e ocidentais têm de deixar de ser arrogantes"
O autor da "Terceira Via", linha de pensamento que influenciou líderes de esquerda como o trabalhista britânico Tony Blair no final dos anos 1990, não se referiu à sua tese sobre o capitalismo e o Estado Social, mas afirmou que para os economistas, actualmente, a única certeza que existe é a de "que as coisas vão ser diferentes do que foram há 20 ou 30 anos".
"O que está a acontecer na economia também está a acontecer na democracia, estamos a entrar numa fase nova. Está com problemas em todo o mundo e também nas áreas em que costumavam ser o 'coração da democracia': Estados Unidos e Europa", afirmou Giddens, referindo-se ao "extremismo e populismo".

"Se olharmos com atenção, vemos que o que está a acontecer na Europa está a acontecer por todo o mundo", disse, aconselhando os "europeus e os ocidentais" a deixarem de ser "arrogantes" sobre as questões da democracia.
"É preciso uma nova transparência, os paraísos fiscais devem desaparecer", defendeu, afirmando acreditar que "o mundo vai fazer alguma coisa contra os paraísos fiscais". "É preciso democratizar a democracia e isto significa eliminar a burocracia e combater a corrupção. Há políticos, polícias, jornalistas e banqueiros que são corruptos", afirmou, referindo-se às novas tecnologias como ferramenta de denúncia de problemas que "minam" as democracias.

Porque é que ninguém conseguiu prever a crise?
Giddens recordou ainda que poucos conseguiram prever a crise económica. "Quem é que previu a recessão a nível global? Quem é que previu o colapso financeiro?"

"Duas ou três pessoas, talvez, mas os economistas profissionais não foram. Eu era director da London School of Economics quando a Rainha de Inglaterra nos foi visitar. Entrou no Departamento de Economia e disse: 'porque é que vocês não viram a crise económico a chegar ?' E ninguém conseguiu responder-lhe."
"Tiveram de fazer vários seminários para encontrar uma resposta", recorda o sociólogo que também não previu a crise.