14.5.13

Cáritas ajuda cada vez mais estudantes a pagar propinas

in Sol

A Cáritas Portuguesa está a ajudar cada vez mais estudantes a pagar as propinas, revelou o presidente da instituição, lembrando que há universitários que estão a perder as bolsas de estudo devido a dívidas dos pais ao Estado.
Os pedidos de ajuda à Cáritas para comparticipação financeira do pagamento de propinas universitárias deixaram de ser casos pontuais para passarem a uma prática, disse Eugénio Fonseca na conferência "Crowdfunding Social", que decorreu em Lisboa.

Eugénio Fonseca contou que "há alunos que estão a perder as bolsas de estudo porque os pais contraíram dívidas para com o erário público".

"Os filhos não deviam ser culpabilizados por estes incumprimentos, sobretudo se forem involuntários", afirmou o responsável à agência Lusa.

Eugénio Fonseca apontou o caso de pequenos empresários que para assegurarem "a subsistência de terceiros, que dependiam desses postos de trabalho", deixaram de pagar às Finanças.

"Estão a ser vítimas de uma solidariedade que os levaram até ao limite e, portanto, gostaria que se olhasse para este problema de uma forma mais estrutural", sublinhou.

Para o presidente da Cáritas, "seria bom fazer um trabalho retrospectivo" para detectar os alunos que tiveram de interromper o curso e "tentar recuperá-los para retomarem o estudo".

Sublinhou ainda que a causa fundamental que leva os alunos a interromper os estudos é o desemprego dos pais, que leva à diminuição dos recursos financeiros do agregado familiar.

Esta situação "causa-nos uma preocupação acrescida porque corre-se o risco, como já aconteceu para muitos, de os alunos interromperem o seu percurso académico, que é fundamental como arma de progresso, de autonomia, quando ultrapassarmos esta crise", sublinhou.

Por outro lado, esta situação "estigmatiza" os jovens, que vêem esta desistência como "uma derrota", que "gera sentimentos de revolta".

"O aluno que é identificado no estabelecimento universitário por deixar a frequência por razões económicas, por muita resistência psíquica que possa ter, sente-se humilhado perante os colegas",comentou.

Outra "humilhação acrescida" para os alunos é o facto de poder haver notas condicionadas por falta de pagamento, sublinhou.

"Sem um diploma de fim de curso ninguém consegue provar habilitação nenhuma académica. Era preferível deixar prosseguir todo o percurso da formação e, no fim, logo se acertariam contas", defendeu.

Na conferência, Eugénio Fonseca lembrou que a "pobreza envergonhada" só existe pelo facto de se "estigmatizarem os pobres".

"É urgente mudar o olhar sobre a pobreza. Julgo que estamos no caminho certo", disse o responsável à Lusa, afirmando que há pessoas que já pensaram "algo sobre os pobres" que já não pensam agora, porque foram atingidos por uma situação de privação.

"Não há nada melhor que sentir na pele os problemas. Uma coisa é falar de pobres, outra coisa é viver na pobreza", observou.