Catarina Silva, in JN
Os pedidos de ajuda nos centros de saúde, serviços de urgência e nas linhas do SNS24 e do INEM na área da saúde mental dispararam. São os efeitos da pandemia e as previsões apontam para um aumento ainda maior.
O SNS está a responder em esforço e enquanto o INEM já tem em curso um reforço de psicólogos, a DGS aguarda pelo aumento das equipas previsto no Orçamento do Estado. Ontem celebrou-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
"Já está a sentir-se um aumento de pedidos de consultas de psiquiatria, e da área da saúde mental de maneira geral. E vai agravar-se mais ainda. Além das questões diretamente relacionadas com a pandemia, vão começar a surgir reações por via das consequências socioeconómicas". Ana Matos Pires, do Programa Nacional para a Saúde Mental da DGS, acredita que os jovens afetados pelo desemprego, e os idosos devido ao isolamento serão os mais afetados. E para o SNS dar resposta, diz, é preciso reforço.
INEM REFORÇA PSICÓLOGOS
"A saúde mental sempre foi o parente pobre da saúde. Os serviços locais fizeram um esforço enorme para dar resposta no início da pandemia. Mas é preciso aumentar os recursos, desde psiquiatras, psicólogos, enfermeiros especialistas". A psiquiatra recorda que o Orçamento do Estado "prevê criar dez equipas comunitárias de saúde mental ainda este ano, duas para cada ARS".
"O SNS está a responder em esforço, sobretudo tendo em conta a deficiência crónica de recursos nesta área. Tem havido muita força por parte do Ministério da Saúde para que isto avance". E alerta que "prevendo-se o aumento da doença depressiva, é óbvio que o risco de aumento da taxa de suicídio existe".
A linha de aconselhamento psicológico, criada pelo SNS24 a 1 de abril, já atendeu mais de 33 mil chamadas. São as mulheres (64%) quem mais recorre ao serviço e a média de idades dos utentes é de 47 anos. Há problemas de ansiedade, angústia, medo, sintomatologia depressiva ou ideação suicida.
O Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM também sentiu o aumento. Segundo a psicóloga responsável, Sónia Cunha, "os pedidos de ajuda via 112 têm vindo a aumentar, julho foi mês recorde". Até 31 de agosto, só com questões diretamente ligadas à covid-19, receberam 163 chamadas urgentes. "Parece pouco, mas exclui todas as situações indiretamente relacionadas e as situações de aconselhamento, que são em número muito maior". Alguns casos foram encaminhados para urgência de psiquiatria.
"Agora, prevemos um aumento. São as sequelas da situação de crise e a iminência de uma segunda vaga". Está em curso um reforço de dez psicólogos no INEM, para somar aos 21 que dão resposta em todo o país.