15.9.20

“Onde está o distanciamento?” O primeiro dia de aulas do 5.º B na escola dos grandes num ano pandémico

Ana Ascensão, Rui Duarte Silva, in Expresso

Um carro da polícia ao fundo, dois agentes a controlar de longe o desalinho de fora dos portões da escola. Os pais, com os filhos pelas mãos, esperavam pela chamada no dia em que, pela primeira vez, não lhes é permitida a entrada para lá do pátio exterior.

Os nomes um a um, pela voz da diretora de turma, Rosa Esteves. Desinfetante à entrada, a sair de uma garrafa descaracterizada com doseador, máscara obrigatória, e um semicírculo a ser formado pelos 15 alunos do 5.º B. “Eu vou à frente”, estipula a professora pouco antes de se ouvir uma voz vinda do grupos dos pais: “É só uma hora. Estavam ali a dizer que é só uma hora”.

E por hoje, é. É dia de apresentação e a escola Professor Óscar Lopes, em Matosinhos, é a única da cidade a escolher o primeiro dia do período dado às escolas para iniciar as aulas. Numa hora, Rosa espera conseguir transmitir à turma que estará sob a sua custódia durante este ano a forma como terá de se comportar em tempos pandémicos.

À entrada do edifício, há quatro tapetes de desinfeção dos sapatos. É preciso seguir as setas verdes, a indicarem o caminho de ida para a sala 3, que será a desta turma até ao fim do ano letivo. “Parou a fila!”, avisa a diretora de turma. “Então e o distanciamento?” (spoiler alert: esta é a frase mais ouvida na primeira manhã de aulas da escola Óscar Lopes, e, adivinha-se, um pouco a de todas aquelas que arriscaram começar esta segunda-feira, pelo país fora).
A sessão de apresentação foi toda dedicada à covid-19 para a turma do 5.º B, pela primeira vez a pisar a escola que será dela nos próximos três anos. Começaram as aulas na escola Óscar Lopes, a primeira da cidade de Matosinhos e uma das primeiras no país a reabrir portas em ano letivo pandémico

Dentro da sala, o ambiente é o mais controlado. Há uma carteira dupla fixa para cada aluno e apenas uma dezena e meia deles, que se mantém calmos a receber os vários “presentes” que a professora Rosa tem para lhes oferecer. Antes de mais, um conjunto de três máscaras, que "podem ser lavadas, cada uma delas, 25 vezes, e eu quero mesmo que a lavagem seja feita!", avisa. "Além das máscaras, o que é que vou distribuir?”, questiona, antecipando mais regras. Logo entrega a cada aluno uma caderneta, uma caneta e uma garrafinha de água, “muito importante", antecipa, porque os alunos terão de a levar para todo o lado, incluindo para a cantina, onde não haverá copos.

"Já sensibilizei que, sempre que possível, os alunos devem trazer o seu lanche da manhã ou da tarde, para evitarmos fazer filas no bar dos alunos”, refere a diretora do agrupamento, Luísa Gama. É nos momentos de lanche que a também professora antecipa poder haver ajuntamentos com mais facilidade. Na hora de almoço, nem por isso. "A cantina, que funciona com uma empresa concessionada pela Câmara de Matosinhos, tem assegurados dois turnos. Já foi dito que os meninos sem aulas à tarde vão levar o almoço para casa, em regime de take away". Os que almoçam na escola deverão marcar a refeição online.

"Antes de tirarem a máscara, o que é que devem fazer?", questiona a diretora de turma, Rosa Esteves, ao 5ºB. "Desinfetar", responde a turma em uníssono, como quem já traz a lição aprendida de casa.

Nesta escola, com 178 alunos, distribuídos em 12 turmas (três turmas do 5.º ano, três do 6.º ano, duas do 7.º, do 8.º e do 9.º), os alunos só terão de se movimentar “para as aulas práticas, as de educação física, de educação visual, de educação tecnológica e de educação musical”. E nos intervalos, que serão desfasados, sublinha Luísa Gama. “Como há dois horários de entrada (8h30, 8h45), os intervalos também são a horas diferentes. No máximo, no intervalo grande, o de 15 minutos, terei três turmas”, explica ainda, ao mesmo tempo que anuncia ter sido determinante a decisão de dividir a escola em dois turnos, “o predominante da manhã e o da tarde”.
Nesta manhã que antes servia para os alunos se apresentarem, só se falou de regras para convivência em tempos de covid-19. Aos alunos do 5.º B, pela primeira vez a conhecerem a escola, falta apenas entenderem a sua fisionomia, numa visita guiada pela diretora de turma, organizados novamente em fila indiana. “Onde está o distanciamento?”, volta a avisar Rosa Esteves, uma e outra vez. “Isto não é nada fácil”, desabafa para o lado.
Nesta primeira manhã de funcionamento, apenas as três turmas do 5.º ano coabitam as paredes da escola, que ainda pouco se parece com uma escola. Após as 10h30, chegarão os alunos do 6.º ano e, da parte da tarde, serão os pais a ter a oportunidade de se sentarem nas cadeiras que serão as dos filhos, para receberem também eles ordens em relação ao ano letivo atípico. Luísa Gama quer “sensibilizá-los, pedir a sua colaboração e dizer-lhes como é que os filhos vão estar na escola. É preciso que todos trabalhemos juntos para que a coisa corra bem”, afiança. Apenas esta quarta-feira, dia 16, as aulas começarão em pleno para todos os alunos da Óscar Lopes.