Natália Faria, in Público on-line
Estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19” mostra que, entre os agressores, quase um terço sentiu-se indiferente ou mesmo alegre face aos danos provocados. É preciso trabalhar mais a empatia e a tolerância, nas escolas e em casa, alerta investigadora.
Insultos, partilha de fotos íntimas, incitações ao suicídio: mais de 60% dos estudantes disseram-se vítimas de cyberbullying durante os três meses de confinamento ditado pela pandemia, que transferiu o ensino das salas de aula para os ecrãs. “Mandaram-me fotos com teor sexual e muitas mensagens com ‘devias-te matar’ ou ‘se fosse como tu já me tinha matado’”, relatou um dos 485 jovens inquiridos no âmbito do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19”, realizado por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O mais surpreendente, porém, nem é o aparente aumento das agressões online, mas antes o facto de, entre os 41% que se assumiram como autores dos ataques, os sentimentos preponderantes terem sido a raiva, a alegria e a indiferença face aos danos causados.
Com este inquérito, os investigadores quiseram saber a que ponto o fecho das escolas, e o consequente ensino mediado por ecrãs, tinha deixado os alunos mais expostos ao cyberbullying e perceber um pouco melhor quem são as vítimas e as motivações dos agressores. E, desde logo, muito para além das horas passadas com a telescola ou nas plataformas de comunicação com os professores, 44,7% dos inquiridos, com idades entre os 16 e os 34 anos, declararam ter passado mais ou menos seis horas por dia a navegar na Internet, sobretudo nas redes sociais (94,8%) ou em blogues e YouTube (72,6%). Da amostra, 61,4% disseram-se vítimas de cyberbullying pelo menos algumas vezes, nos três meses em que durou o ensino à distância.
Quando, numa pergunta aberta, lhes perguntaram se tinham aumentado estas mensagens de conteúdo prejudicial e violento, 59% responderam que sim, contra os 37% que declararam não ter sentido que a negatividade nas redes sociais tenha aumentado. “Não podemos medir este aumento das agressões, porque não foi feito nenhum estudo antes da pandemia, mas as respostas parecem indicar que sim”, arrisca Raquel António, uma das autoras do estudo, para sublinhar que, muito para além do medo provocado pelo coronavírus, “as vítimas de bullying afirmaram terem-se sentido irritadas, tristes, nervosas e inseguras com mais frequência do que os estudantes que não sofreram ataques online”.
Nada de demasiado surpreendente: um estudo que a Unicef fez em 2017 já mostrava que uma em cada três crianças tinha sido vítima de cyberbullying e que uma em cada cinco deixou mesmo de ir à escola por causa disso. Nas redes sociais como na vida real, o estudo mostrou que “os estudantes LGBTI e com rendimentos familiares mais baixos” foram os alvos preferenciais dos ataques. Entre os que assistiram às agressões, 51,2% declararam que tentaram impedir que continuassem, apenas um pouco acima dos 47,1% que assumiram nada terem feito.
Pouco culpados
Mas as respostas mais surpreendentes surgem quando os autores destes ataques – e 41% dos inquiridos assumiram terem agredido alguém online - foram questionados sobre os sentimentos preponderantes: 29,4% mostraram-se indiferentes ao sofrimento causado e 9,1% declararam mesmo ter sentido alegria. Apenas 16% admitiram sentir culpa. E por que praticaram cyberbullying? “Por brincadeira”, responderam 41,1% dos inquiridos. Entre os restantes, 23,9% referiram a necessidade de vingança relativamente a episódios anteriores e 10,2% disseram que o fizeram para se afirmarem perante os colegas.
“Sentimos neste inquérito muita falta de reconhecimento das emoções nos outros e acredito que esta falta de culpa e esta indiferença nos agressores decorre daí”, interpreta Raquel António, para quem “muitas vezes, os jovens não têm consciência de que, ao carregarem no botão para partilharem determinado conteúdo, estão a magoar muito quem é visado naquela foto ou naquele post”. Dito de outro modo, “partilham e comentam sem pensar nas consequências dos seus comentários”.
A par de medidas mais eficazes no combate ao cyberbullying, o estudo reclama que se aumente nos jovens esta consciência “de que aquilo que eles escrevem nas redes sociais tem impacto nos outros”. “É importantíssimo trabalhar a empatia, a gentileza, a tolerância e o respeito, não só na escola mas também em casa, onde os pais devem estar atentos aos que os filhos escrevem online e promover uma utilização segura dos dispositivos tecnológicos”, precisa a investigadora, sem deixar, contudo, de ressalvar, que as conclusões do estudo podem ter ficado enviesadas pelo facto de haver mais raparigas e participantes heterossexuais entre os inquiridos. “Era importante podermos recolher dados com amostras mais abrangentes, e, no futuro, queremos também perceber se este aumento das situações de cyberbullying ocorreu também entre os adultos”.
Insultos, partilha de fotos íntimas, incitações ao suicídio: mais de 60% dos estudantes disseram-se vítimas de cyberbullying durante os três meses de confinamento ditado pela pandemia, que transferiu o ensino das salas de aula para os ecrãs. “Mandaram-me fotos com teor sexual e muitas mensagens com ‘devias-te matar’ ou ‘se fosse como tu já me tinha matado’”, relatou um dos 485 jovens inquiridos no âmbito do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19”, realizado por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O mais surpreendente, porém, nem é o aparente aumento das agressões online, mas antes o facto de, entre os 41% que se assumiram como autores dos ataques, os sentimentos preponderantes terem sido a raiva, a alegria e a indiferença face aos danos causados.
Estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19” mostra que, entre os agressores, quase um terço sentiu-se indiferente ou mesmo alegre face aos danos provocados. É preciso trabalhar mais a empatia e a tolerância, nas escolas e em casa, alerta investigadora.
Insultos, partilha de fotos íntimas, incitações ao suicídio: mais de 60% dos estudantes disseram-se vítimas de cyberbullying durante os três meses de confinamento ditado pela pandemia, que transferiu o ensino das salas de aula para os ecrãs. “Mandaram-me fotos com teor sexual e muitas mensagens com ‘devias-te matar’ ou ‘se fosse como tu já me tinha matado’”, relatou um dos 485 jovens inquiridos no âmbito do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19”, realizado por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O mais surpreendente, porém, nem é o aparente aumento das agressões online, mas antes o facto de, entre os 41% que se assumiram como autores dos ataques, os sentimentos preponderantes terem sido a raiva, a alegria e a indiferença face aos danos causados.
Com este inquérito, os investigadores quiseram saber a que ponto o fecho das escolas, e o consequente ensino mediado por ecrãs, tinha deixado os alunos mais expostos ao cyberbullying e perceber um pouco melhor quem são as vítimas e as motivações dos agressores. E, desde logo, muito para além das horas passadas com a telescola ou nas plataformas de comunicação com os professores, 44,7% dos inquiridos, com idades entre os 16 e os 34 anos, declararam ter passado mais ou menos seis horas por dia a navegar na Internet, sobretudo nas redes sociais (94,8%) ou em blogues e YouTube (72,6%). Da amostra, 61,4% disseram-se vítimas de cyberbullying pelo menos algumas vezes, nos três meses em que durou o ensino à distância.
Quando, numa pergunta aberta, lhes perguntaram se tinham aumentado estas mensagens de conteúdo prejudicial e violento, 59% responderam que sim, contra os 37% que declararam não ter sentido que a negatividade nas redes sociais tenha aumentado. “Não podemos medir este aumento das agressões, porque não foi feito nenhum estudo antes da pandemia, mas as respostas parecem indicar que sim”, arrisca Raquel António, uma das autoras do estudo, para sublinhar que, muito para além do medo provocado pelo coronavírus, “as vítimas de bullying afirmaram terem-se sentido irritadas, tristes, nervosas e inseguras com mais frequência do que os estudantes que não sofreram ataques online”.
Nada de demasiado surpreendente: um estudo que a Unicef fez em 2017 já mostrava que uma em cada três crianças tinha sido vítima de cyberbullying e que uma em cada cinco deixou mesmo de ir à escola por causa disso. Nas redes sociais como na vida real, o estudo mostrou que “os estudantes LGBTI e com rendimentos familiares mais baixos” foram os alvos preferenciais dos ataques. Entre os que assistiram às agressões, 51,2% declararam que tentaram impedir que continuassem, apenas um pouco acima dos 47,1% que assumiram nada terem feito.
Pouco culpados
Mas as respostas mais surpreendentes surgem quando os autores destes ataques – e 41% dos inquiridos assumiram terem agredido alguém online - foram questionados sobre os sentimentos preponderantes: 29,4% mostraram-se indiferentes ao sofrimento causado e 9,1% declararam mesmo ter sentido alegria. Apenas 16% admitiram sentir culpa. E por que praticaram cyberbullying? “Por brincadeira”, responderam 41,1% dos inquiridos. Entre os restantes, 23,9% referiram a necessidade de vingança relativamente a episódios anteriores e 10,2% disseram que o fizeram para se afirmarem perante os colegas.
“Sentimos neste inquérito muita falta de reconhecimento das emoções nos outros e acredito que esta falta de culpa e esta indiferença nos agressores decorre daí”, interpreta Raquel António, para quem “muitas vezes, os jovens não têm consciência de que, ao carregarem no botão para partilharem determinado conteúdo, estão a magoar muito quem é visado naquela foto ou naquele post”. Dito de outro modo, “partilham e comentam sem pensar nas consequências dos seus comentários”.
A par de medidas mais eficazes no combate ao cyberbullying, o estudo reclama que se aumente nos jovens esta consciência “de que aquilo que eles escrevem nas redes sociais tem impacto nos outros”. “É importantíssimo trabalhar a empatia, a gentileza, a tolerância e o respeito, não só na escola mas também em casa, onde os pais devem estar atentos aos que os filhos escrevem online e promover uma utilização segura dos dispositivos tecnológicos”, precisa a investigadora, sem deixar, contudo, de ressalvar, que as conclusões do estudo podem ter ficado enviesadas pelo facto de haver mais raparigas e participantes heterossexuais entre os inquiridos. “Era importante podermos recolher dados com amostras mais abrangentes, e, no futuro, queremos também perceber se este aumento das situações de cyberbullying ocorreu também entre os adultos”.
Insultos, partilha de fotos íntimas, incitações ao suicídio: mais de 60% dos estudantes disseram-se vítimas de cyberbullying durante os três meses de confinamento ditado pela pandemia, que transferiu o ensino das salas de aula para os ecrãs. “Mandaram-me fotos com teor sexual e muitas mensagens com ‘devias-te matar’ ou ‘se fosse como tu já me tinha matado’”, relatou um dos 485 jovens inquiridos no âmbito do estudo “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia da covid-19”, realizado por uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O mais surpreendente, porém, nem é o aparente aumento das agressões online, mas antes o facto de, entre os 41% que se assumiram como autores dos ataques, os sentimentos preponderantes terem sido a raiva, a alegria e a indiferença face aos danos causados.
Com este inquérito, os investigadores quiseram saber a que ponto o fecho das escolas, e o consequente ensino mediado por ecrãs, tinha deixado os alunos mais expostos ao cyberbullying e perceber um pouco melhor quem são as vítimas e as motivações dos agressores. E, desde logo, muito para além das horas passadas com a telescola ou nas plataformas de comunicação com os professores, 44,7% dos inquiridos, com idades entre os 16 e os 34 anos, declararam ter passado mais ou menos seis horas por dia a navegar na Internet, sobretudo nas redes sociais (94,8%) ou em blogues e YouTube (72,6%). Da amostra, 61,4% disseram-se vítimas de cyberbullying pelo menos algumas vezes, nos três meses em que durou o ensino à distância.