4.9.20

Lojas do rés-do-chão a abastecer carros eléctricos? É uma das ideias que quatro investigadoras deixam a Costa Silva

Marta Moitinho Oliveira, in Público on-line

Portugal 2030 é o nome do documento enviado por quatro investigadoras como contributo para recuperar a economia portuguesa na próxima década. Um “airbnb da electricidade” serviria para revolucionar o acesso à energia.

E se pudesse abastecer o seu carro eléctrico num café de rua? A ideia de criar uma espécie de “airbnb da electricidade” que permita “acelerar a electrificação da mobilidade do transporte de passageiros” consta do documento “Portugal 2030” lançado por quatro investigadoras da Nova, do Técnico e da Universidade de Lisboa, que quiseram contribuir para o plano de Costa Silva que esteve em consulta pública.

Para criar um país mais sustentável, as investigadoras propõem, entre outras coisas, uma revolução no acesso à energia, em que uma das sugestões passa por avançar com “soluções do tipo ‘airbnb’ da electricidade - modelos distribuídos dos serviços existentes ao nível das ruas, como cafés ou lojas, para acelerar a electrificação da mobilidade do transporte de passageiros”.

Ao PÚBLICO, Júlia Seixas, uma das autoras do documento, explica que a ideia é aproveitar as lojas de rés-do-chão que “podiam servir de posto de carregamento” para os carros eléctricos, passando também elas a ser fornecedoras de energia para esse efeito. “No Reino Unido existem cidades pequenas onde este modelo já existe”, acrescenta a engenheira do ambiente e professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Uma solução deste género permitiria aumentar o número de postos de abastecimento de carros eléctricos.

Susana Peralta, economista e professora na Nova SBE; Susana Coroado, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e membro da Direcção da Transparência e Integridade; e Joana Gonçalves de Sá, investigadora no Laboratório de Experimentação e Física Experimental de Partículas (LIP) e professora no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, são as outras autoras do documento.

Em 15 páginas, as peritas resumem as ideias com que também quiseram contribuir para a Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, o documento que António Costa Silva entregou ao Governo, que esteve em consulta pública, tendo recebido 1153 contributos, cerca de dois terços dos quais de particulares.

O documento das investigadoras está dividido em quatro objectivos: um país mais sustentável, sem pobreza, conhecedor e mais justo.


Para combater a pobreza, as investigadoras defendem que os apoios monetários “devem ser automáticos”, ou seja, “o Estado faz a transferência sem as pessoas assinalarem a necessidade”, e a transferência em géneros para uso exclusivo para crianças.

O fim dos paraísos fiscais - as autoras dizem que, segundo o Parlamento Europeu, o planeamento fiscal agressivo faz desaparecer 160 a 190 mil milhões de euros das receitas fiscais na União Europeia - é outra das soluções para alargar a base tributária. A que se juntam novos impostos sobre plataformas digitais e ambiente.

Um Pacto de Regime para a Ciência, com um financiamento plurianual, “regular, transparente e desburocratizado” e um “financiamento para a ciência e inovação superior a 3% do PIB” são outros dos contributos deixados.

Para alcançar um país mais justo, as autoras defendem um combate à corrupção, com uma aposta forte na formação dos profissionais mais envolvidos nesta área, como juízes e procuradores, e um combate ao “abuso da contratação pública por ajuste directo”, bem como o acompanhamento e medidas que ponham fim a “eventuais conflitos de interesse”.