Organização alerta para efeitos no desemprego de longa duração com o fim dos apoios. Trabalhadores com salários mais baixos tiveram as maiores reduções nas horas trabalhadas.
De todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) onde se registou um aumento da taxa de desemprego, Portugal foi o que menos sentiu essa subida no final do ano passado comparando com o quarto trimestre de 2019. Mas a evolução pode dever-se ao aumento do número de pessoas que passou para o contingente de inativos.
Os dados foram divulgados esta quarta-feira, 7 de julho, no relatório da OCDE sobre o mercado de trabalho em período de pandemia.
De acordo com a organização sediada em Paris, comparando o último trimestre de 2019 com o mesmo período do ano passado, a variação foi de 6,8 pontos percentuais, a mais baixa dos países onde se verificou um aumento da taxa de desemprego. Nos 32 Estados-membros analisados neste estudo, apenas a França, a Grécia, a Itália e a Turquia conseguiram reduzir a taxa de desemprego.
Mas esta realidade esconde um efeito que decorre da forma como é calculada esta taxa, uma metodologia usada em todo o mundo e que segue as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este indicador permite definir o peso da população desempregada sobre o total da população ativa. Se a população ativa diminui e o número de pessoas desempregadas que estão à procura de trabalho aumenta então, a taxa de desemprego desce ou aumenta pouco.
"No pico da primeira vaga do coronavírus, as restrições generalizadas à mobilidade e o distanciamento social, a par dos receios de contrair o vírus, travaram a procura de emprego", assinala a OCDE, lembrando que durante os períodos de recessão a procura agregada de emprego tende a aumentar, mas devido à covid-19 "em muitos países há evidências de uma redução."
"Para ser considerado desempregado, de acordo com as estatísticas do mercado de trabalho, um indivíduo deve estar ativamente à procura de emprego", sublinha a organização, o que pode distorcer os impactos da crise sanitária no mercado laboral. "As limitações à procura de emprego criadas pela pandemia empurraram muitos dos que, em tempos normais, teriam sido classificados como desempregados, para a população inativa", frisam os técnicos da OCDE. E esse efeito teve maior relevância precisamente em Portugal a par da Áustria, Irlanda, Finlândia e Espanha, na Europa e do Chile, México e Turquia.
O risco do desemprego de longa duração
A organização acredita que os efeitos da pandemia no desemprego de longa duração ainda não se fizeram sentir no ano passado, uma vez que só são consideradas as pessoas sem trabalho há 12 meses. A OCDE nota, de resto, que Portugal (a par da França, Irlanda, Grécia, Itália, Noruega, Eslováquia e Turquia) registou um decréscimo nos desempregados de longa duração.
Mas este movimento poderá ser invertido à medida que a economia reabre e estas pessoas regressam à procura ativa de emprego, abandonando a categoria de inativos. A organização liderada pelo australiano Mathias Cormann considera que "os períodos prolongados de desemprego são mais problemáticos", ao contrário do que acontece com os curtos períodos sem trabalho, uma vez que ainda estão ativos os apoios sociais.
Salários baixos mais castigados
De acordo com a OCDE, as profissões menos qualificadas e com salários mais baixos foram as que sofreram o impacto mais violento da pandemia logo na primeira fase, durante a primavera do ano passado. Em termos de horas trabalhadas verificou-se uma redução média de 28%, uma diferença superior a 18 pontos percentuais face às profissões altamente qualificadas.
Portugal surge como um dos países em que essa quebra de horas trabalhadas foi mais cavada. "Em países como Portugal e Espanha, estas profissões de baixos salários viram as horas de trabalho descer mais de 40% em comparação com o ano anterior", assinala a organização, acrescentando que este "padrão contrasta com a evolução no início da crise, em que o decréscimo foi idêntico" nas duas categorias de rendimentos.