in Correio da Manhã
O presidente da Cáritas Portuguesa defendeu esta segunda-feira a criação de um movimento na sociedade que ajude a encontrar soluções para os desempregados de longa duração, que representam uma "tragédia social muito grande".
"Devia surgir na sociedade portuguesa um movimento para saber o que é que vamos fazer a estas pessoas", afirmou Eugénio Fonseca na conferência OpenWeek, que decorre até quinta-feira na Universidade Católica, em Lisboa.
Eugénio Fonseca adiantou que a economia social poderá ser uma solução, mas pode não ser para todos.
"Nós temos que nos reorganizar porque estes cidadãos vão ter ainda pela frente um percurso de vida activa muito grande porque a reforma é, no mínimo, aos 65 anos e continuam a ter encargos familiares", elucidou.
À margem da conferência, o responsável explicou à agência Lusa que este movimento terá de ser integrado por várias áreas (economia, segurança social e educação) de forma a conseguir integrar estes desempregados.
Nesse sentido, defendeu, devem ser criadas medidas para "a captação destas pessoas para a criação do auto-emprego, nos que tiverem condições para isso, ou para a sua requalificação de forma a adaptarem-se aos postos de trabalho que possam aparecer".
"Nós vamos ter dois ou três anos pela frente para providenciar isso", disse, vincando que, se isso não for feito, existirá "um problema social gravíssimo".
"Não sei se o Estado terá depois capacidade para suportar os encargos que essas pessoas vão acarretar para o colectivo", observou.
Eugénio Fonseca lembrou que muitos destes desempregados são pais de muitos jovens que também não conseguem arranjar emprego.
"É mau que 30 por cento da população jovem em idade activa esteja desempregada", mas também é "muito preocupante" que jovens quadros emigrem para outros países.
"Agora pode dar jeito aos governantes, mas a médio prazo não sei como vai ser, porque muitos desses jovens podem não regressar" e depois quem irá ocupar os postos de trabalho mais qualificados, questionou.
Para o presidente da Caritas, "é um crime quando se faz passar a mensagem de que não vale a pena apostar na formação porque estamos a formar para o desemprego".
"Quando a economia recuperar, esses empregos vão estar disponíveis para os jovens qualificados", disse Eugénio Fonseca, dirigindo-se à plateia cheia de estudantes universitários.
Sublinhou ainda que o desenvolvimento da actual "política austera" está a ser "muito violenta", porque está a atingir principalmente "os mais vulneráveis da sociedade".
"Nós estamos a viver um período difícil em nome de um desígnio, que é o pagamento do défice, mas estamos a ser altamente escravizados para o seu cumprimento", sublinhou.
Eugénio Fonseca denunciou ainda outro problema que está a ocorrer devido ao desemprego: a "implosão do modelo familiar".
"A sociedade portuguesa é muito machista e muitos homens não aceitam que a mulher esteja a trabalhar e ele em casa e acabam por sair de casa", disse.
Há outros homens que se refugiam no álcool, o que potencia o aumento da violência doméstica e a marginalidade.
"Portugal nunca teve estatísticas tão elevadas de desemprego (14 por cento) ", disse, lembrando que nesses números não entram os que já não vão ao centro de emprego.
"O nosso país já ultrapassa a barreira dos 20% dos desempregados", lamentou.