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O Ano Europeu do Envelhecimento Activo procura sensibilizar e chamar a atenção para o contributo das pessoas mais velhas para a sociedade (Manuel Roberto)
A coordenadora nacional do Ano Europeu do Envelhecimento Activo, Joaquina Madeira, considera que o modelo de sociedade consumista relegou os “mais frágeis”, como os idosos, para segundo plano, causando situações de abandono que são “intoleráveis”.
“Infelizmente temos esses pequenos caos na nossa sociedade”, disse Joaquina Madeira em entrevista à Lusa, a propósito da abertura oficial em Portugal, na terça-feira, do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações.
Para a coordenadora do Ano Europeu, situações como a dos idosos que aparecem mortos sozinhos em casa são “muito críticas” e merecem a indignação de todos.
“A sociedade já não tolera situações desta desumanidade”, vinca.
Joaquina Madeira aponta responsabilidades ao “modelo de sociedade consumista, pós-industrial, materialista, que relegou os mais frágeis para uma posição em que são pouco alvo da atenção e da solidariedade das comunidades”.
Para a responsável, “a fragmentação das famílias, a urbanização e as condições da vizinhança, que não sente obrigação relativamente ao outro, vieram criar estas situações”.
Apesar destas situações não poderem acontecer, o facto das pessoas terem “maior consciência de que são situações intoleráveis é um factor muito importante para a mudança”.
“Às vezes aprendemos da pior maneira e isto pode ajudar também para que saibamos dar mais valor às pessoas e às amizades”, sustentou, considerando que as dificuldades que as famílias estão a viver também podem fomentar uma maior aproximação com os outros.
Contudo, admite, “é um fenómeno que dificilmente se combate porque cada vez há mais idosos a viver sozinhos, o que não acontecia no passado e as pessoas também morriam mais cedo”.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, em 2011, mais de 1,2 milhões de idosos viviam sozinhos ou em companhia de outras pessoas com mais de 65 anos, representando cerca de 60 por cento da população idosa a viver nestas condições.
Na última década, os idosos a viver sós ou em companhia com outros idosos aumentou 28%, adiantam os Censos 2011.
Joaquina Madeira salientou as iniciativas que já foram tomadas por organizações não-governamentais e freguesias para através do voluntariado fazerem um acompanhamento sistemático destas pessoas.
“Antigamente estes casos também existiam mas estavam ocultados. O facto de sabermos já é muito bom porque vamos tomar medidas”, sublinha.
O Ano Europeu do Envelhecimento Activo procura sensibilizar e chamar a atenção para o contributo das pessoas mais velhas para a sociedade e promover medidas que criem melhores oportunidades para essas pessoas se manterem activas.