Francisco Ferreira da Silva, in Económico on-line
A crise económica e a falta de emprego têm levado milhares de portugueses a emigrar. Só entre 2009 e 2011 foram 65 mil os desempregados que anularam a inscrição nos centros de emprego e que apontaram como razão a emigração.
É um fenómeno que tende a acentuar-se à medida que a recessão se aprofunda e o desemprego aumenta em Portugal. O fenómeno verifica-se não apenas entre os desempregados, mas também entre os jovens à procura de primeiro emprego e entre outros que, estando empregados, vêem melhores saídas profissionais além-fronteiras. As estimativas da emigração portuguesa oscilam entre os 70 mil e os 100 mil por ano desde 2009. Grande parte dos que deixam o País são licenciados e, entre estes, existem muitos detentores de mestrados e doutoramentos. Os destinos em crescimento são Angola e o Brasil, embora também exista muita emigração para o Reino Unido, França, Alemanha e outros países da Europa, como o Luxemburgo e a Bélgica.
Os portugueses são um povo de emigrantes desde o século XV, com especial destaque para os séculos XIX e XX, quando os fluxos migratórios para os Estados Unidos, Brasil e França se acentuaram. O fenómeno teve um período de acalmia nas últimas três décadas, mas a crise e a falta de emprego levaram muitos a voltar a arriscar o futuro no estrangeiro. Temos compatriotas espalhados por 140 países do mundo que totalizam cerca de cinco milhões, ou seja quase metade da população residente em Portugal. França ainda é o país que mais portugueses acolhe, seguida do Brasil e dos Estados Unidos, mas o novo século alterou as rotas da emigração. Não existe um quadro fiel da realidade porque as estatísticas são escassas e pouco fiáveis, sobretudo na União Europeia, onde existe livre circulação de pessoas.
Os quadros portugueses são cobiçados nos mercados internacionais pela boa qualificação académica, capacidade de trabalho e facilidade de dominar outras línguas, o que é lisonjeiro para nós. Há cada vez mais casos de portugueses que integram estruturas dirigentes de grandes empresas internacionais e isso deve orgulhar-nos. Somos um mercado aberto, que recebe muitos estrangeiros e fornece mão-de-obra para outros países. E esse é o verdadeiro significado de uma União Europeia ao nível económico e político, mas também social. Esse é o desafio das novas gerações mas também das mais velhas, porque os Estados Unidos da América há muito que se habituaram a ver os seus cidadãos nascerem num estado e estudarem e viverem noutro ou mesmo num país diferente. Os portugueses são, por natureza, agarrados à família e à terra que os viu nascer, mas emigrar não é um drama, é, cada vez mais, uma opção de vida.