in Jornal de Notícias
Especialistas consideraram, esta segunda-feira, no Porto, que o sentimento de injustiça, num contexto de austeridade, pode contribuir mais para o aumento da criminalidade urbana do que o puro estado de necessidade.
"Há uma teia em que diversos fatores, e não apenas a crise económica, podem contribuir para o aumento da criminalidade. Por exemplo, as pessoas que veem o crime de colarinho branco a não ser punido adquirem a perceção de que se os grandes fazem, então também podem roubar num supermercado", ilustrou o antropólogo Daniel Seabra.
A necessidade é "um fator que pode influenciar [o aumento da criminalidade], mas não é o único, nem determinante ou exclusivo", anuiu o segundo comandante da PSP do Porto, intendente Pedro Teles.
"Quando assistimos ao retirar de direitos às pessoas e vemos outros vangloriarem-se de que nem se importam muito sobre quanto vão receber por cargos não executivos (...), temo que a revolta possa surgir e que a legitimação dessa revolta se comece a instalar", afirmou, por seu lado, o inspetor-chefe da PJ Tavares Rijo.
O investigador, que iniciou a sua carreira em 1974, declarou-se "perplexo" por ver "gente com grandes responsabilidades na segurança deste país a anunciar que se vão fazer reuniões ao mais alto nível porque se antevê que a crise económica venha a redundar num aumento da criminalidade".
"São questões demasiado sérias para serem debatidas, em antecipação, na praça pública. Estas questões têm de ser trabalhadas, mas em privado, no silêncio", sublinhou Tavares Rijo, acrescentando que o crime "não se combate por decreto, nem com reuniões palacianas, combate-se com uma grande política social e com uma sensibilização da comunidade".