22.2.12

Novas profissões que vão marcar 2012

Por Ana Rute Silva, in Publico on-line

No final do ano passado, o desemprego afectava mais de um milhão de pessoas e a taxa atingiu o valor histórico de 14% no último trimestre de 2011, a maior subida de sempre. Mas num cenário de desaparecimento constante de postos de trabalho, também emergem novas funções nas empresas ou modernizam-se outras já existentes.

De acordo com o Guia das Novas Funções 2012 da Michael Page (empresa de recrutamento de quadros médios e superiores), este ano foram identificadas como "emblemáticas" 15 novas profissões em oito sectores de actividade distintos. As empresas portuguesas estão à procura de trabalhadores com novas competências, com muita experiência em áreas que a recessão fez eclodir, como a recuperação de dívidas ou a necessidade de expansão internacional.

Álvaro Fernandez, director-geral da Michael Page em Portugal, sublinha que o documento - elaborado em todos os 32 países onde a empresa está presente - não pretende ser exaustivo. Em Portugal, resultou de 2877 reuniões com clientes onde foram analisadas as necessidades de recursos humanos. "A intenção era, numa conjuntura de crise, analisar os postos de trabalho que estavam a surgir nos últimos tempos", explica.

As quebras no consumo em Portugal levaram as empresas a olhar para fora de portas e dar mais atenção às exportações. Funções como "gestor de desenvolvimento de negócios internacionais" nas áreas comerciais e de marketing estão a emergir dentro das organizações e tornaram-se críticas tendo em conta a conjuntura. "Isto é válido tanto para as grandes como para as pequenas empresas", analisa Álvaro Fernandez. Além disso, cresce a necessidade de encontrar novas formas de vender e chegar ao consumidor. A Internet permite "redução de custos" e a venda pura através deste canal está a crescer. Por isso, precisa-se de gestores de marketingonline para gerir produtos, serviços e clientes neste universo.

No retalho, explodem cartões de fidelização de clientes e a complexidade de alguns dos programas exige que haja alguém que faça um acompanhamento permanente. O loyalty program manager converteu-se numa figura-chave na política comercial. "Passámos de um modelo de captação de novos clientes para outro no qual se procura manter a relação a longo prazo", sublinha Sérgio Leote, consultor da Michael Page.

Apesar da profunda crise na construção civil, os recrutamentos feitos pela empresa em Portugal para lugares de engenheiros dispararam 140% em 2011 face a 2010. "Há muita procura por parte de empresas para funções no Brasil e Angola", diz Álvaro Fernandez, acrescentando que, ao mesmo tempo, há muitos quadros qualificados à procura de emprego. Ainda há oportunidades para quem está disposto a deixar o país.

Nas seguradoras, a figura do actuário ganha peso e é a posição mais procurada do sector. É a ele quem cabe a "responsabilidade técnica de mitigar financeiramente todos os riscos incluídos numa determinada apólice de seguro". A directiva comunitária de Solvência II criou novos requisitos e apetência por actuários, considerada a profissão do ano nos Estados Unidos. Na banca, destaca-se o responsável pela reestruturação da dívida, que "foca os seus esforços na minimização do risco de default em carteiras de clientes onde foram encontradas dificuldades" para pagar as dívidas.

De uma forma geral, os especialistas têm vantagens no difícil mercado de trabalho, sublinha Álvaro Fernandez. Procuram-se pessoas com conhecimento profundo do sector e da empresa. Na área de recursos humanos, e sobretudo em grandes organizações, nascem novos responsáveis de pessoal em cada unidade de negócio, atentos às necessidades particulares de uma determinada área.

Mas, ao mesmo tempo, são solicitados coordenadores de recursos humanos com experiência em relações laborais que assumem todas as necessidades do departamento pela "necessidade de reduzir custos" - antes eram dois ou mais colaboradores. Além disso, procuram-se pessoas que assumam as rédeas das negociações colectivas, demissões e assessoria jurídica.

No sector farmacêutico, a figura do medical manager tornou-se chave para fazer a interligação entre departamentos. São quadros licenciados em ciências da saúde ou, de preferência, em medicina, com capacidade para gerir uma equipa de investigadores na área dos ensaios clínicos e, ao mesmo tempo, colaborar no plano comercial e de negócios da empresa. Já nas tecnologias da informação, está a ser pedido aos engenheiros informáticos um papel mais amplo no negócio, com participação activa em todas as áreas.

Na hora de recrutar estes novos trabalhadores, as empresas ou recorrem a consultores que já prestaram serviços e são absorvidos, ou captam funcionários internamente, dando-lhes formação, ou recrutam noutras empresas onde a função já exista.




Director de obras internacional

Descrição: Responsável pela gestão de empreitadas da empresa fora de Portugal. A situação actual do sector da construção obrigou à internacionalização e, por isso, as construtoras procuram alguém orientado para os resultados e com capacidade de adaptação a ambientes multiculturais.

Perfil: Engenheiro civil com experiência de entre cinco e oito anos como director de obra no estrangeiro ou elevada motivação para este contexto. Falar a língua do país de destino é "absolutamente essencial".

Remuneração: Entre 60 mil e 80 mil euros por ano, a que acresce compensação pela expatriação.



Gestor de Comunidades

Descrição: A imagem da empresa nas redes sociais ganha peso e, por isso, emerge um novo perfil de trabalhador a quem cabe trabalhar a marca online. Reporta ao director de marketing online (outra nova função) e é responsável pelo controlo e monitorização da imagem da empresa na Internet.

Perfil: Licenciatura em Marketing e formação em plataformas online. Requer-se experiência de um ano em funções similares, fluência em inglês e um candidato consciente das novas tendências.

Remuneração: Entre 35 e 45 mil euros por ano, a que acresce uma retribuição variável.



Director/coordenador de Recursos Humanos

Descrição: Num contexto em que reduzir custos é a palavra de ordem, as empresas procuram agora pessoas com experiência em relações laborais e conhecimento da legislação. Nos últimos dois anos, têm sido exigidas novas competências ao director de recursos humanos, nomeadamente no comando de negociações colectivas, demissões ou assessoria jurídica.

Perfil: Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos ou similar, MBA ou pós-graduação na área, experiência mínima de cinco anos, fluente em inglês, com conhecimento das leis laborais e do mercado de trabalho temporário.

Remuneração: Entre 65 e 75 mil euros por ano, dependendo da experiência e da indústria em causa.



Advogado interno

Descrição: A contracção no mercado doméstico tem levado as empresas portuguesas a desenvolver projectos de expansão internacional e, para isso, precisam de contratar advogados com alto grau de conhecimento do sector e da empresa. É a ele quem caberá seleccionar e coordenar as relações com sociedades de advogados.

Perfil: Licenciatura em Direito, experiência em operações internacionais ou no exterior, nível de inglês excelente e alguns conhecimentos de uma terceira língua. Experiência comprovada de sete a nove anos numa sociedade internacional é necessária.

Remuneração: Entre 35 mil e 45 mil euros por ano, a que acresce compensação variável em função de resultados.



Director de reestruturação de dívidas

Descrição: Entidades financeiras nacionais e internacionais têm cada vez mais necessidade de profissionais que consigam manter as carteiras de crédito com a menor exposição possível. Nos próximos dois a três anos, as equipas de reestruturação de dívida vão ser determinantes nas empresas da banca e sector financeiro.

Perfil: Licenciatura em Gestão e Administração de Empresas, Economia ou Engenharia com pós-graduação em Finanças e experiência em áreas de risco de crédito entre cinco e dez anos.

Remuneração: Entre 60 mil e 80 mil euros, a que acresce uma componente variável.