26.2.12

Crise pode revalorizar o papel das mulheres na agricultura

in Jornal de Notícias

A crise poderá resultar na revalorização do "valor da terra", o que deve passar por reconhecer o papel das mulheres na agricultura, disse a secretária de Estado da Igualdade, que vai debater este tema na Organização das Nações Unidas.

A 56.ª sessão da Comissão sobre o Estatuto das Mulheres (CSW, na sigla em inglês), que começa na segunda-feira e se prolonga até 09 de março, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque (Estados Unidos da América), tem como tema central o fortalecimento do papel das mulheres rurais e o seu papel na erradicação da pobreza e da fome e no desenvolvimento.

A secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, Teresa Morais, chefia a delegação portuguesa que participa na comissão. "É um tema muito relevante neste momento" de crise, que poderá resultar na "revalorização de algumas formas seguras de riqueza, como é o caso da terra", disse, em declarações à Lusa.

O "investimento em formas supérfluas de riqueza" acompanhou a "desvalorização" da agricultura, mas talvez a crise traga "uma mudança de atitude" face "ao valor seguro da terra" e ao contributo da agricultura, não só para a economia familiar, mas também para a produção nacional de riqueza, estima.

Em Portugal, assiste-se a "uma situação interessante", considera a governante, explicando que, no "contexto de declínio global da agricultura" e de "envelhecimento da população agrícola", tem-se verificado igualmente "um aumento da representação das mulheres", tanto na agricultura familiar, como na empresarial.

Embora os produtores agrícolas em Portugal continuem a ser maioritariamente homens, o número de mulheres aumentou entre 1999 e 2009, representando hoje cerca de um terço dos produtores agrícolas singulares. Ao nível dos trabalhadores agrícolas assalariados, a taxa feminina é a quinta maior da União Europeia (47%).

Simultaneamente, realça Teresa Morais, existe "uma forte representação feminina ao nível do ensino superior na área da agricultura" (55 por cento).

Mas não há só indicadores positivos sobre as mulheres das zonas rurais. " semelhança de outros contextos, também ali persiste uma "discrepância salarial entre mulheres e homens", que "ronda os 16%", frisa. Simultaneamente, estas mulheres continuam a estar sub-representadas na política e outras atividades públicas e a serem vulneráveis a situações de exclusão e isolamento, aspetos "em que se pode melhorar", reconhece a secretária de Estado.

Exclusivamente dedicada à igualdade de género, a Comissão sobre o Estatuto das Mulheres reúne anualmente representantes dos estados-membros para avaliar os progressos.

Na segunda-feira, Teresa Morais participa no debate central e intervém no plenário de alto nível sobre a Plataforma de Ação de Pequim.

Para terça-feira está previsto um encontro com Michelle Bachelet, diretora executiva da agência da ONU para a igualdade de género (ONU Mulheres), criada em julho de 2010, com quem falará sobre a experiência portuguesa no âmbito da violência contra mulheres, que será o tema da sessão do próximo ano, adiantou Teresa Morais, referindo que Portugal manifestará interesse em ter "uma participação ativa".

Na quarta-feira, a secretária de Estado encontra-se com a representante especial do secretário-geral da ONU para a violência contra crianças, a portuguesa Marta Santos Pais.

À margem dos trabalhos da CSW, Teresa Morais encontra-se este sábado com a comunidade portuguesa de New Bedford.