21.2.12

Casas comunitárias atenuam pobreza e solidão dos idosos

in Diário de Notícias

O concelho de Vila Flor, no Nordeste Transmontano, conseguiu minorar o problema da solidão dos idosos com a construção de casas comunitárias nas aldeias e garantir algo que muitos nunca conseguiram alcançar com uma vida dura de trabalho.

Uma habitação com conforto foi uma realidade que alguns dos inquilinos só experimentaram depois dos 70 anos nestas casas comunitárias, símbolo do Projeto de Luta Contra a Pobreza "Vila Flor Solidária".

O projeto terminou há 13 anos, mas ficaram cinco casas comunitárias, uma na sede de concelho e quatro em outras tantas aldeias, que são na verdade vários lares dentro de um edifício, erguidos a partir da reconstrução de antigos palheiros e habitações em ruínas.

Em quase todas permanecem ainda os primeiros inquilinos, como é o caso de Isabel Roio, hoje com 89 anos, e que só aos 76, "depois de uma vida escrava", soube o que era uma verdadeira casa.

Viveu sempre em Seixo de Manhoses "numa barraquinha", com "tudo a cair", onde "entrava o frio por todos os buracos".

Agora "pode chover, pode fazer vento, pode fazer o que quiser" que não sente nada na habitação em que vive há 13 anos, na Casa Comunitária de Seixo de Manhoses.

A idade já lhe dificulta os movimentos, mas antes se quer aqui "do que no lar".

"Faço o que quero, vou para onde quero. Morro mais depressa se me metem num lar", contou à Lusa, no pátio exterior comum aos restantes vizinhos.

Maria Augusta, 67 anos, vive por cima com uma filha e duas netas e, depois de o marido morrer, não conseguia pagar a renda da casa antiga. Agora paga "vinte euros e pouco por mês" e realça "a grande ajuda" que tem sido este projeto.

Se não fosse a Casa Comunitária de Vila Flor, João Pereira "não tinha onde viver". Foi um dos estreantes e continua a pagar uma renda de cinco euros por um espaço que lhe permitiu também dar a mão e abrigo ao irmão António, de 62 anos, desempregado.

"Se não fosse isto, já talvez tivesse morrido", desabafou João, que está feliz com a casa, mas angustiado com a "falta de saúde".

A Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor (SCMVF) é responsável por três destas casas, as de Vila Flor, Vilas Boas e Vale Frechoso. As outras duas, em Seixo de Manhoses e Santa Comba da Vilariça, foram entregues às juntas de freguesia.

As Casas Comunitárias são também uma resposta social para a principal entidade de solidariedade social do concelho, como disse à Lusa Mónica Fernandes, da SCMVF.

Foram concebidas a pensar, sobretudo, nos idosos, mas sempre acolheram também outras famílias, como jovens casais com fracos rendimentos ou situações de emergência social.

Hermínia Morais é técnica da ação social da Câmara de Vila Flor e acompanha, desde a primeira hora, o projeto que quis criar uma resposta diferente dos habituais bairros sociais, preocupado com o fortalecimento das relações de vizinhança e proximidade entre as pessoas.

Para o presidente da Câmara, Artur Pimentel, estas casas "preenchem uma lacuna que continua a existir em todos os concelhos do interior e no mundo rural, que é a solidão, é o isolamento de muita gente., sobretudo pessoas de mais idade".

O autarca não deixa de recordar, no entanto "a relutância que houve, na altura, por parte dos responsáveis nacionais do Projeto de Luta Contra a Pobreza" em relação a este modelo, em que forma investidos metade dos cerca de 500 mil euros destinados ao concelho transmontano.

"Não fomos muito compreendidos em relação a estas ações em que, gastando-se pouco dinheiro, ficaram para o futuro. O tempo veio-me dar razão e eu não sei o que é que ficou de todos esses projetos de luta contra a pobreza espalhados pelo país, sei aquilo que ficou de bom, efetivamente, aqui no concelho de Vila Flor" disse.

Bom para o presidente da junta de freguesia de Seixo de Manhoses, Constantino Olmo, era replicar estas casas, agora a pensar mais "nos casais jovens que não têm casa nem trabalho e estão muito carenciados".

A freguesia ainda é das maiores da região, com cerca de 500 habitantes, mas não tem emprego e a poucas jeiras na agricultura resumem-se a "15 dias de azeitona".