28.2.12

Pobreza nas crianças é hoje menos visível em Portugal, mas há "muitos problemas" por resolver, alerta Unicef Pobreza em Portugal

in SicNotícias

A pobreza que afeta as crianças portuguesas é hoje "menos visível", mas isso não quer dizer que não haja "muitos problemas" por resolver, defende a diretora executiva da Unicef Portugal, alertando para as situações "encaixotadas em edifícios altos".

Em declarações à Lusa, a propósito do relatório "Situação mundial da infância 2012: crianças no mundo urbano", divulgado hoje e que será apresentado em Lisboa ao início da tarde, Madalena Marçal Grilo, diretora executiva da Unicef Portugal, não tem dúvidas: "Não podemos dizer que a pobreza urbana em Portugal tenha desaparecido, porque não desapareceu." "O facto de as situações 3/8 estarem mais encaixotadas, em edifícios altos e que não se veem, não quer dizer que (...) tenham desaparecido por si só. São é diferentes", distingue.

Os bairros de barracas praticamente desapareceram em Portugal, mas, entre as "muitas pessoas que foram realojadas", persistem "muitos problemas que não ficaram resolvidos", assinala.

"Sabemos que há muitos problemas... falta de condições de habitabilidade, muitas pessoas por habitação, exploração de crianças, abusos sexuais, muitas vezes propiciados pelas condições de habitação", enumera Madalena Marçal Grilo.

"Estamos num período de crise, em que desemprego e cortes sociais estão a refletir-se já na vida de muitas crianças", frisa, reconhecendo, porém, que não há dados específicos sobre crianças que confirmem as impressões recolhidas no terreno.

O relatório da Unicef para 2012 é dedicado à situação das crianças no mundo urbano, alertando para o facto de as cidades se estarem a transformar em sítios muito desiguais, onde as crianças com menos recursos ficam à margem.

A experiência da infância é crescentemente urbana. Metade da população já vive em cidades e estima-se que em 2050 sete em dez pessoas aí residam. Os "mil milhões de crianças" que vivem atualmente em cidades grandes e pequenas estão a ser "excluídas do acesso a serviços essenciais", conclui a agência das Nações Unidas para a infância.

A cerimónia de lançamento do relatório "Situação mundial da infância 2012: crianças no mundo urbano" realiza-se às 14:00, na Câmara Municipal de Lisboa, com Madalena Marçal Grilo, o vereador com os pelouros da Proteção Civil, Educação e Desporto, Manuel Brito, e Ana Paula Marques, chefe de divisão da Acção Social e Saúde Pública da Câmara Municipal de Aveiro.

Madalena Marçal Grilo comunicou ainda que a Unicef Portugal vai relançar o programa Cidades Amigas das Crianças. O conceito foi definido pela Unicef em 1996 e já existem cerca de mil cidades amigas das crianças num planeta que é cada vez mais urbano.

A Portugal, estas cidades chegaram a 01 de junho de 2007, altura em que o Governo assinou um protocolo com 13 autarquias: Amadora, Aveiro, Cascais, Guarda, Matosinhos, Palmela, Ponte de Lima, Portimão, Póvoa de Varzim, Trancoso, Vila do Conde, Vila Franca de Xira e Viseu.

Porém, desde então, o programa tem estado "em stand-by", porque a Unicef não tinha "meios humanos e materiais", reconheceu Madalena Marçal Grilo, referindo que "vai ser relançado de forma mais sistemática e aberto a outras cidades".

Uma cidade amiga das crianças ouve as suas opiniões e deixa-se influenciar por elas, possibilita-lhes a participação na vida da sociedade, garante-lhes serviços básicos de saúde e educação, água potável e um ambiente não poluído, respeita-as, protegendo-as da exploração, da violência e do abuso, não as discrimina consoante o sexo, a raça, a etnia, a religião, o dinheiro ou qualquer deficiência. As ruas dessa cidade oferecem-lhes segurança e há espaços verdes para brincarem.