Por Paulo Miguel Madeira, in Público on-line
O sector privado não financeiro teve uma dinâmica de desendividamento no ano passado, que foi mais intensa nos particulares e pequenos negócios do que no resto da economia. No sector público a tendência foi inversa, com uma forte subida de 13,1% do valor em dívida, para 138% do PIB.
Os dados sobre esta realidade constam do Boletim Estatístico do Banco de Portugal de Fevereiro, onde se inclui um novo capítulo sobre o endividamento do sector não financeiro, que no final do ano passado atingia 418% do PIB (715 mil milhões de euros), face a 402% no final 2010 – era de 280,3% no sector privado não financeiro, ou 280,3 mil milhões de euros.
No sector privado, os dados divulgados hoje mostram que o volume de crédito a particulares se reduziu 2,4% em Dezembro de 2011 face a Dezembro de 2010, para 102,6% do PIB, tendo a componente de crédito à habitação recuado “apenas” 1,6%, o que significa que a queda do crédito ao consumo foi maior.
O crédito ao conjunto das empresas privadas recuou 0,5% homólogos em Dezembro, para 177,7% do PIB, mas com ritmos bastante diferenciados. A maior queda aconteceu no crédito total concedido às pequenas empresas, com um recuo de 2,6% no mesmo período, enquanto no caso das médias empresas recuou 1,4%, nas microempresas 1,1% e nas grandes empresas 0,2%.
Estes valores indicam que o desendividamento (ou desalavancagem, em linguagem financeira) está a ocorrer em força nas famílias e negócios mais pequenos, poupando o sector público e os grandes negócios. No caso das SGPS (sociedades gestoras de participações sociais, ou holdings) não financeiras, houve mesmo um aumento homólogo de 3,8% do stock de dívida.
O desendividamento no sector privado pode estar associado quer ao aperto de crédito bancário a que o Governo se tem referido, quer de eventuais adiamentos de investimento das empresas em face da recessão em curso, cujo fim ainda não está à vista.
Do mesmo modo, o desendividamento dos particulares pode resultar quer de maiores dificuldades de acesso ao crédito quer da queda de rendimentos ou do adiamento de decisões de consumo de bens mais caros, como carros ou casas.
Dívida do sector público subiu 17,1 pontos percentuais
A subida da dívida do sector público foi maior nas administrações públicas (+14,5%) do que nas empresas, onde ainda assim subiu 6,6%. Em ambos os casos, a subida foi menos intensa do que em 2010, quando tinha subido respectivamente 15,2% e 16,3% no final do ano.
De 2010 para 2011, a dívida das administrações públicas na óptica de Maastricht (a que vigora para as metas europeias) subiu de 93,4% e 107,2% do PIB, mas o valor total contabilizado pelo banco de Portugal era de respectivamente 107,6% no final de 2010 e 124,4% do PIB em Dezembro último.
Somando as empresas públicas, a dívida do sector público não financeiro estava em 138% do PIB – face a 120,9% no final de 2010. Passou de 208,6 mil milhões de euros para 236 mil milhões.