20.2.12

Horta comunitária em escola combate exclusão social e ajuda carenciados

in Visão

Horta comunitária em escola combate exclusão social e ajuda carenciados
Couves, batatas, favas e coentros aproximam alunos, familiares, habitantes e utentes do centro comunitário do bairro. Numa escola de Évora criou-se uma horta comunitária que "combate" a exclusão social e ajuda famílias carenciadas.

No recinto da Escola Básica do 1.º Ciclo da Cruz da Picada, entre o campo de jogos e o edifício escolar, "nasceu" uma horta comunitária, com 16 talhões, que "entretém" 26 hortelões, entre familiares dos alunos, habitantes e utentes do centro comunitário do bairro.

João Miranda foi um dos que aproveitou "a oportunidade" para se "distrair" e levar para casa os produtos que a "terra possa dar", em vez de "andar nas tabernas e nos cafés", porque "há pouco dinheiro para isso".

Com esta "boa iniciativa", garante, é possível poupar em "pequenas coisas", como batatas, ervilhas, favas, alhos, coentros e salsa.

"O que conseguirmos poupar aqui, não vamos gastar noutro lado e sempre posso poupar um euro ou dois. Parecendo que não, sempre é alguma coisa", disse.

Aos 65 anos, João Miranda, reformado, é também "um professor das hortas", já que passa para os mais novos todos os truques: "Eles fazem algumas perguntas, vão vendo o que fazemos, nós explicamos e eles aprendem", refere.

Antigo aluno de volta à escola
Outro dos hortelões é Vítor Hugo, de 25 anos. Estudou nesta escola "há uns bons anos" e, agora, voltou para se "entreter" num talhão da horta comunitária.

"Para mim, acho que é bom para fazer o que tenho a fazer e ocupar o tempo e não fazer desgraças", afirma.

Por isso, diz que sempre que pode passa pela escola para "tratar" dos espinafres, da couve roxa, das favas, dos alhos, das cebolas e da salsa que cultivou.

Apesar de estar à procura de emprego na área da jardinagem, Vítor Hugo frequenta o curso modular de Competências Básicas de Leitura e Escrita, na Associação para o Desenvolvimento e Bem Estar Social da Cruz da Picada (ADBES).

De encontro aos problemas do bairro
A diretora do Agrupamento de Escolas n.º 1 de Évora, Isabel Gomes, conta que a ideia da horta comunitária surgiu há quase dois meses, depois de ter sido criada a horta pedagógica, para dar "uma resposta adequada" aos "problemas sociais graves" do bairro da Cruz da Picada.

"As pessoas, vindo ao espaço escolar, acabam por valorizá-lo, uma vez que até levam produtos para a sua alimentação", considera, lembrando que muitos dos beneficiários da horta comunitária "vivem do rendimento social de inserção, não têm emprego ou têm fracas reformas".

Para os adultos, é também uma oportunidade para "voltarem às origens", porque, na sua infância e até no início da sua vida adulta, muitos deles "tiveram ligação à terra", frisa.

Também os alunos, reforça, saem a ganhar, porque, durante os intervalos, "acabam por frequentar a horta comunitária e, muitas vezes, ajudam os adultos a plantar e a cuidar de cada um dos talhões".

O projeto reúne diversas entidades num consórcio cuja instituição promotora é a Associação Menuhin, mas no qual está também envolvida a autarquia local e o Agrupamento N.º 1 de Escolas de Évora.