Por Ana Cristina Pereira, in Público on-line
Apesar da sensação de achaque, não há debandada geral dos países em crise na zona euro. Aumentou a emigração em Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e Grécia, mas de modo “modesto”. Isso é, pelo menos, o que diz o relatório anual das migrações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Na perspectiva migratória, Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha partilham uma dupla condição. Por um lado, têm sido, pelo menos desde que terminou a Segunda Guerra Mundial, “países de emigração significativa”. Por outro, todos se têm transformado também “em países de imigração ao longo dos últimos 15 anos”.
Para apurar o volume da emigração, Portugal socorre-se de países de destino. E, por aí, em 2011, não houve surpresas. Terão partido mais de 70 mil, “mais de metade dos quais com menos de 29 anos”. Foram para outros países europeus, como o Reino Unido, a França, a Suíça, a Alemanha ou o Luxemburgo. E para países de língua portuguesa, sobretudo para o Brasil e para Angola. A imigração, essa, mede-se por cá e caiu 12% - 30 mil.
Outro reflexo do aumento do desemprego para níveis históricos: As entradas no território nacional estão em queda desde 2009. No ano passado, os pedidos de autorização de residência para estudar em Portugal tornaram-se nos mais solicitados. Representaram quase metade (47%) da totalidade dos vistos de longa duração. Seguiram-se os vistos atribuídos às famílias (cerca de 25%) e os vistos de trabalho (16%).
Espanha vale-se dos registos municipais e de outras fontes nacionais para calcular o saldo migratório. Em 2011, houve mais 50 mil pessoas a sair do que a entrar. Em 2010, pelo contrário, houve mais 60 mil pessoas a entrar do que a sair. Esta variação explica-se por mais 100 mil saídas do território, a maior parte protagonizada por estrangeiros, que regressam ao país de origem. Os espanhóis viraram-se para a Argentina.
A Irlanda socorre-se de um “inquérito às forças de trabalho”. No princípio da crise (2007-09) a imigração caiu a pique, “em particular dos novos países membros da União Europeia, para quem a Irlanda era um dos principais destinos”. Em 2009, aumentou a saía de estrangeiros. Em 2010, aumentou a de irlandeses: 18 mil em 2009, 28 mil em 2010, 40 mil apenas nos primeiros quatro meses de 2011, a maior parte para a Nova Zelândia e para a Austrália.
Segundo o “Migration Outlook 2012”, não se produz nada semelhante na Grécia e na Itália. Arrisca, no entanto, dizer que o acréscimo de saídas é pequeno. Os dois países tiveram, todavia, de lidar com um afluxo crescente de clandestino – em Itália muito impulsionado pela chamada “primavera árabe”, que afrouxou o controlo das fronteiras na Tunísia e na Líbia.
Apesar da preocupação com as fronteiras extremas, o movimento migratório na Europa está muito associado à livre circulação interna. Era de nacionalidade romena a maior parte dos novos imigrantes na Hungria, em Itália, em Portugal e em Espanha. Já os polacos lideraram a migração para a Dinamarca, a Alemanha, a Islândia, a Holanda e a Noruega. Os portugueses continuam à frente no Luxemburgo e em segundo na Suíça.
A relação entre saldo migratório e mercado laboral é evidente nos diversos países. “Em geral, na área da OCDE, o desemprego aumentou 54,5% entre Dezembro de 2007 e Janeiro de 2012, o que corresponde a mais 13,7 milhões de desempregados”, refere o relatório. “Os três países europeus mais atingidos pela crise na Europa – Irlanda, Espanha e Grécia – também tiveram o maior aumento do desemprego, a par da Islândia e da Estónia.”
A taxa de desemprego mais do que duplicou em Espanha e na Grécia. Portugal, Hungria, Itália, França, Polónia, República Eslovaca tinham taxas de desemprego acima da média da OCDE, que era de 8,4% em Janeiro de 2012. Nessa altura, Áustria, Chile, Israel, Alemanha e Turquia já tinham retomado os valores pré-crise.
Os estrangeiros são os mais afectados pelo desemprego, ainda que de forma diversa. Os do Norte de África “registam as menores taxas de emprego” na Europa. Migrantes de países da América Latina também experimentam taxas recorde. Um facto que não surpreende os autores do relatório, dada a sobrerepresentação destes grupos em sectores (construção) e países (Espanha, Itália, Grécia) mais atingidos pela crise.
O género também importa. Olhando para Grécia, Espanha, Portugal, França e Dinamarca, os autores do relatório verificam que a “a taxa de participação de homens nascidos no estrangeiro desceu, enquanto a de mulheres subiu, em alguns casos de forma bastante significativa”. Na Irlanda e em Espanha, por exemplo, o emprego masculino migrante caiu cerca de 16% e o feminino caiu metade. Na Grécia e em Portugal a taxa de emprego de mulheres migrantes diminuiu 1,6% e 1 %, respectivamente, ao passo que a dos homens migrantes caiu 14% e 10%.