Carlos Oliveira, Presidente da Cáritas Diocesana do Algarve, in Agência Ecclesia
A realidade social vivida nesta Diocese do Algarve não se afasta daquela que se vive por todo o país, sendo que nesta região é profundamente mais gravosa na medida em que um em cada cinco algarvios está desempregado. As denúncias de grandes dificuldades que se fazem sentir têm chegado a esta Cáritas Diocesana através das Cáritas Paroquiais, Conferências Vicentinas e Grupos Paroquiais de Ação Social, que se veem a braços com os muitos pedidos de ajuda.
Para esta situação, que oportunamente denunciámos, não se vislumbram sinais que apontem para uma inversão da crescente degradação, nem mesmo pela especificidade que no Algarve muitas vezes é apontada, isto é, a empregabilidade sazonal. Mas se as pessoas já se encontram em situação tão difícil de endividamento, não será com um emprego frágil e de baixos salários que irão recuperar de um passado de dificuldades, ficando assim condenadas a permanecer numa constante carência de toda a ordem.
Na nossa Diocese assiste-se por isto a um crescendo de pedidos de ajuda centrados principalmente em famílias que têm no seu seio uma, duas ou mais pessoas em situação de desemprego e que não conseguem suportar as suas despesas, quer sejam alimentares, quer sejam de dívidas de encargos como a casa, água, luz, medicamentos e mesmo eventualmente no pagamento de propinas de filhos que estudam na universidade.
As respostas possíveis têm sido dadas quer através dos grupos de ação sociocaritativa existentes nas paróquias, quer pela própria Cáritas Diocesana, sendo que as ajudas que damos ficam muito aquém daquilo que as pessoas necessitam.
O nosso Bispo, D. Manuel Neto Quintas, atento à situação que se fazia já sentir na Diocese, procurou suscitar na população algarvia o sentido de partilha e criou, em fevereiro de 2010, o Fundo Diocesano Social. Como foi definido, revertem para este Fundo, entre outros, um vencimento por cada sacerdote da Diocese, as Renúncias Quaresmais de 2011 e de 2012, bem como contributos de particulares ou empresas.
Este Fundo - gerido por uma Comissão Diocesana constituída pelo Vigário Geral e pelo Ecónomo Diocesanos, pelo Presidente da Cáritas do Algarve por um representante da Comissão Diocesana de Pastoral e por uma Técnica de Serviço Social - já analisou cerca de 132 pedidos de ajuda, ao longo da sua existência, tendo distribuído perto de 79 000 euros, aguardando-se a entrega da Renúncia Quaresmal de 2012 para se iniciar a análise dos muitos processos entretanto rececionados nos três últimos meses.
Até à presente data nenhum dos apoios prestados foi submetido ao Fundo Social Solidário da Conferência Episcopal Portuguesa, mas dado o aumento de pedidos verificados atualmente, tudo indica que brevemente teremos de o fazer.
Verifica-se hoje na Diocese uma maior disponibilidade para a partilha e entrega voluntária às causas sociais, evidenciada na criação de novos grupos de ação sociocaritativa ou na revitalização de outros já existentes, alguns deles vocacionados para um tipo de ajudas muito específicas e repetitivas, mas atendendo às novas realidades sociais tiveram de se apetrechar de maiores meios a nível de recursos humanos e materiais, como resposta às novas problemáticas apresentadas. É, segundo o nosso Bispo, o tomar de uma nova consciência social mais profícua, tornando-nos mais perspicazes no olhar para quem sofre e mais precisa.
Entretanto, e fruto das necessidades que foram aparecendo, muitas têm sido as iniciativas desenvolvidas no sentido da formação de agentes da Pastoral Social, destacando dentre elas a Formação sobre a Doutrina Social da Igreja, iniciativa da Cáritas Diocesana acolhida em quase todas as Vigararias por muitos que, mesmo não pertencendo à área da Pastoral Social quiseram saber um pouco mais sobre a temática. Por seu lado, as jornadas de ação sociocaritativa da Diocese, iniciativa da Cáritas Diocesana, procuraram levar aos cerca de 109 participantes as fragilidades sentidas e vividas na região. O tema ‘O agir cristão em tempo de crise’ procurou apontar novas pistas para o combate à crise atual, tendo como objetivos centrais a justiça, a solidariedade e o bem-comum.
Numa tentativa de minimizar as dificuldades por que muitos passam, nas mais variadas vertentes, foi reforçada a partilha nas comunidades paroquiais, tendo algumas estabelecido um domingo por mês como o “Domingo da Caridade”, onde é feita a partilha de bens de diversa ordem entre os membros dessas comunidades. Repetiu-se a recolha de alimentos em supermercados e surgiram no inico de 2010 os Refeitórios sociais “Take away”, um na Cáritas Diocesana e outro na comunidade paroquial de Silves, e mantendo-se os já existentes.
As respostas das paróquias no serviço da ação social e o trabalho da Cáritas Diocesana têm sido possíveis através de um significativo número de voluntários que executam o seu trabalho generoso e silencioso e, também, fruto de novos passos que se vão dando para promover o trabalho em rede com outras entidades civis, por forma a obter o maior número de respostas adequadas a cada pedido.