in Jornal de Notícias
O Observatório de Mulheres Assassinadas registou em 2011 em Portugal o homicídio
de 27 pessoas num contexto de conjugalidade e relações de intimidade, mas as
queixas de violência doméstica apresentadas às autoridades são, em média, de
quatro por hora.
O observatório, que faz a contabilização das vítimas a partir das notícias da
imprensa, conclui que, apesar de ter havido uma diminuição no número de
homicídios identificados relativamente a 2010 (43), em mais de metade deles, e
das tentativas registadas, "existia violência na relação e algumas das situações
haviam mesmo sido reportadas às entidades competentes".
Constituído em 2004 como grupo de trabalho da UMAR - União de Mulheres
Alternativa e Resposta, o observatório revela que neste período 245 mulheres
foram mortas por homens com quem tinham, ou tiveram, uma relação amorosa. Mas se
juntar a esse número a violência intra-familiar, os assassinatos de mulheres
sobem para 278.
Segundo o relatório de monitorização da violência doméstica da Direcção Geral
da Administração Interna (DGAI), no primeiro semestre de 2011 foram registadas
pelas forças de segurança 14.508 queixas, o que correspondeu a uma diminuição de
4,6 por cento relativamente ao período homólogo de 2010.
Em todo o ano de 2010 - segundo a DGAI - a violência doméstica constituiu a
terceira tipologia criminal mais participada em Portugal (a seguir a "outros
furtos" e a "furto em veículo motorizado"), representando 7,3 por cento do total
das participações à GNR, PSP e PJ.
Nesse ano foram registadas 31.235 participações de violência doméstica pelas
forças de segurança, correspondendo, em média, a 2.603 participações por mês, 86
por dia e a quatro por hora.
Quanto às 58 sentenças em processos-crime por violência doméstica comunicadas
à DGAI no primeiro trimestre de 2011, 52 por cento foram absolvições e 48 por
cento condenações, mas entre as penas aplicadas apenas seis por cento foram de
prisão efetiva.
Segundo dados do Ministério da Justiça fornecidos aos investigadores do
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, que realizaram o estudo
"Trajectórias de Esperança: itinerários institucionais de mulheres vítimas de
violência doméstica", a pena mais aplicada nestes casos continua a ser a pena de
prisão suspensa simples
(em 2000, esta pena representou 92 por cento das penas aplicadas e, em 2009,
38 por cento).
"Esta pena, por não implicar qualquer dever de sujeição ou regra de conduta
por parte do arguido, conduz, para grande parte das pessoas entrevistadas no
estudo, a um certo sentimento de impunidade que tem consequências naquele
conflito específico, com o agressor a sentir que não lhe foi aplicada qualquer
pena", concluem os investigadores.
Em 2011 a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um total de
19.944 factos criminosos que se refletiram em 8.192 processos de apoio relativos
à problemática de violência doméstica.
Segundo o relatório da APAV, a que a agência Lusa teve acesso, o autor do
crime foi, em 83 por cento dos processos de apoio, do sexo masculino, e
situava-se predominantemente na faixa etária entre os 35 e os 40 anos.