19.6.12

Figueiredo, o polícia que toma conta de 62 idosos de Aveiro

Salomé Filipe, in Jornal de Notícias

"Estou viva, eu e as minhas irmãs, graças ao agente Figueiredo. Porque eu disse que me ia matar". Maria La Salete, 68 anos, estava no limite do desespero quando se cruzou com a PSP. Hoje, é um dos rostos do "Apoio 65 - Idosos em Segurança", um programa da PSP, que em Aveiro foi implementado em 2008.

Rui Figueiredo, 37 anos, é o polícia que se tornou familiar de cada um dos 62 idosos que acompanha. E luta, todos os dias, por um objetivo: combater a solidão e a exclusão social na velhice. No silêncio das suas casas, os idosos esperam, ansiosos, a visita de Figueiredo. A única que receberão naquele dia, ou mesmo naquela semana ou mês. "É um trabalho que faço com gosto", repete o agente.

Salete é considerada por Rui Figueiredo como "o retrato deste trabalho". Com medo de um sobrinho, esquizofrénico, que a ameaçava, Salete ia dormir para a esquadra policial, a meio da noite. Com ela, pela mão, levava sempre "as meninas": Rosário, 40 anos, e Fátima, 60, deficientes mentais. "A Polícia foi a única que me deu a mão. Hoje sinto-me amparada", conta, ao JN, feliz por ter conseguido, com a ajuda da PSP, que o sobrinho iniciasse um tratamento psiquiátrico.

Violência doméstica

Dos idosos que são acompanhados pelo programa, a maior fatia (22 - 19 mulheres e três homens) é ou já foi vítima de violência doméstica, desencadeada, na maioria, por filhos. Os restantes 40 recebem o apoio da PSP devido a situações de vulnerabilidade, de desavenças familiares ou de isolamento.

Rui Figueiredo é o único agente destacado para o programa. Sabe que tem mais 62 vidas que dependem, em grande parte, do seu apoio. "Assumimos uma responsabilidade que, depois, já não é a instituição que está em causa, somos nós", sublinha.

Alberto Amaral, 77 anos, é outro dos rostos do projeto. Devido a uma desavença familiar com a filha, genro e netos, Alberto, ex-funcionário camarário e empresário, há dois meses que vive sozinho, após 22 anos de vivência com quem agora se desentendeu. "Quero levá-lo a um centro de dia para ele ver, seria o ideal", conta o polícia.

Tal como com Alberto, o papel de Rui passa, diariamente, ao lado das competências que a população atribui a um polícia. Todos os dias da semana visita cinco idosos de seis freguesias de Aveiro. "Se fosse mais, não lhes podia dar atenção e eles ficam chateados", graceja o agente. Chega, conversa com eles, vê se está tudo bem e tenta dar-lhes mais qualidade de vida, ajudando-os no que for preciso. Ao sair deixa a promessa de voltar. Os mais velhos já podem descansar.