O verão permitiu interromper o rasto de destruição da crise sanitária no mercado de trabalho. Pelo segundo mês consecutivo, registou-se uma ligeira subida do emprego em julho. No entanto, em comparação com o mesmo mês do ano passado, o impacto da crise é muito significativo: desapareceram 171 mil postos de trabalho
Segundo revelou esta segunda-feira o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a população empregada aumentou 0,1% em julho (dados provisórios que ainda terão de ser confirmados no próximo mês), variação que se soma à subida de 0,3% em junho. Em dois meses, foram criados 16 mil empregos.
No entanto, vale a pena pôr este número em perspetiva. É que entre março e maio, foram destruídos 183 mil empregos. E se a comparação for homóloga, entre julho deste ano e o mesmo mês do ano passado desapareceram 172 mil postos de trabalho.
Do lado do desemprego, passou-se o contrário e os sinais da crise são finalmente evidentes. Depois de um período durante o qual a taxa de desemprego era incapaz de refletir a evolução no mercado de trabalho (por razões metodológicas), agora este indicador já está em clara deterioração. A taxa de desemprego passou de 7,3%, em junho, para 8,1%, em julho, e que compara com os 5,9% registados em maio. No entanto, até esse mês de maio, a taxa de desemprego não se agravou, pelo contrário, até recuou.
Com a inversão da tendência, a população desempregada ascende já a 409 mil, ou seja mais 120 mil do que em maio. Se a comparação for com julho do ano passado, o aumento é de 74 mil.
Esta aparente evolução contraditória entre emprego e desemprego explica-se pelo facto de a pandemia ter alterado o padrão de comportamento dos desempregados. Para que o INE (e o Eurostat) considerem uma pessoa desempregada, é preciso que esta tenha desenvolvido um conjunto de esforços no sentido de encontrar emprego, o que se tornou complicado para muita gente nos primeiros meses da pandemia por causa do confinamento.
Os dados do emprego e desemprego são assim menos contraditórios do que parece. O desemprego está a descrever o que se passa no mercado de trabalho com um desfasamento de alguns meses. Já o emprego consegue medir de forma mais imediata as alterações, estando agora a reagir à redução das medidas restritivas à atividade económica e à recuperação ligeira e gradual do turismo.