2.2.12

Mediadora ajuda à integração de famílias ciganas na comunidade de Abrantes

in o Mirante

A ideia é ajudar a resolver situações como a assiduidade escolar dos jovens, o acesso a cuidados básicos de saúde ou a importância da empregabilidade.

Há três meses que as rotinas de Tânia Sousa, 39 anos, mudaram substancialmente. O facto de ser casada pela tradição cigana e de ter dois filhos, de 14 e 7 anos, não impediu que assumisse funções de mediadora cultural, desde 19 de Outubro de 2011, na Câmara Municipal de Abrantes, trabalhando junto de 40 famílias da mesma etnia, em Abrantes. O objectivo é ajudá-las a integrarem-se melhor no meio e a resolverem os problemas que têm entre si. Em Abrantes, esta comunidade de 135 pessoas é considerada atípica, uma vez que se encontra dispersa, sem patronos e sem relações entre si.

Tânia Sousa casou tarde para o que é usual, aos 19 anos, e só tinha a 3.ª classe. Após falar com o marido e este concordar, decidiu prosseguir os estudos e está prestes a receber o certificado do 9.º ano, não descartando a hipótese de completar o ensino secundário. Foi desta forma que alguém sugeriu que seria a pessoa ideal para as funções de mediadora municipal, no âmbito de um projecto que conta com o apoio do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), através do GACI - Gabinete de Apoio às Comunidades Ciganas, e ao qual a autarquia abrantina se candidatou.

“Foram à minha casa e perguntaram-me se queria aceitar este tipo de trabalho. A princípio receei, porque trabalhar com a comunidade cigana não deveria ser fácil, mas até à data não se revelou complicado”, contou a O MIRANTE.

O projecto do ACIDI tem como principais objectivos o acesso das comunidades ciganas a serviços e equipamentos locais, bem como promover a comunicação entre a comunidade cigana e a comunidade envolvente, com vista à prevenção e gestão de conflitos.

Na actividade que desenvolve no terreno, Tânia Sousa diz que “tem conseguido fazer-se ouvir e respeitar”. A ideia é ajudar a comunidade a resolver situações como “a assiduidade escolar dos jovens, o acesso a cuidados básicos de saúde ou a importância da empregabilidade”. Ao mesmo tempo, o projecto visa a necessária “desconstrução de estereótipos entre as comunidades ciganas e as restantes, e promover uma maior articulação entre as várias comunidades de ciganos” residentes em Abrantes.

Tânia Sousa tem participado em diversas formações para desempenhar o papel o melhor que sabe. Antes de iniciar funções, já tinha alertado alguns elementos da sua comunidade sobre o facto de se ter candidatado ao lugar de mediadora, explicando-lhes que estava cá “para fazer a ponte entre a comunidade cigana e a comunidade maioritária”.

É com “orgulho” que desenvolve este papel, um trabalho que pretende assegurar a “inclusão” das comunidades ciganas portuguesas na sociedade e resolver os seus principais problemas, salvaguardando o respeito pelos seus valores e pelas suas tradições.

Acrescenta ainda que o marido reconhece a importância do trabalho que faz e os dois filhos “adoraram” o facto de ter começado a trabalhar, considerando que é uma grande oportunidade na vida e um passo para que os outros olhem de maneira diferente para as mulheres ciganas, destacando o facto de ser “mulher” e de ser ela a desenvolver este projecto junto de um grupo cujas tradições não permitem que o elemento feminino trabalhe habitualmente fora da comunidade onde está inserido. “Há pessoas que criticam, mas sinto-me respeitada e orgulhosa pelo que faço e não é por isso que renego a minha cultura e as minhas tradições”, vincou.

Celeste Simão, vereadora da acção social na Câmara de Abrantes, disse que a iniciativa está a revelar-se “bastante interessante e proveitosa”, tendo realçado o facto da mediadora municipal ser precisamente uma mulher de etnia cigana, conhecedora da realidade local.

“Em Abrantes e nas freguesias rurais temos cerca de 40 famílias de etnia cigana, sem os denominados patronos ou alguém de referência que escutem e respeitem, e que constituem uma comunidade perfeitamente atípica de 135 pessoas, a maioria das quais não interage nem se entende entre si”, observou.

No distrito de Santarém, Abrantes é a única câmara com uma mediadora municipal de etnia cigana mas o projecto Mediadores Municipais reúne um total de 20 municípios do país, que trabalham com as suas comunidades ciganas e não-ciganas.