2.2.12

Autarquias deviam rastrear os que vivem sós e criar programas de inclusão social

in Público online

A associação de Psicologia Forense, Criminal e da Exclusão Social defendeu hoje que as autarquias deviam rastrear as pessoas mais velhas que vivem sós e criar programas de inclusão social para evitar o aparecimento de idosos mortos em casa.

Numa altura em que se debate a extinção de freguesias, o presidente da associação afirmou à Lusa que não sabe se “o importante é reduzi-las ou reactivar as suas competências” para ajudar os mais velhos.

“Num país que detém uma densidade elevada de autarquias e de autarcas, caber-lhes-á seguramente rastrear os idosos que vivem sós nas suas áreas de jurisdição e criar condições para que sejam estabelecidos programas de acção ou intervenção no domínio da promoção da inclusão social dos mais idosos”, defendeu Carlos Poiares.

O psicólogo e professor de psicologia forense explicou que as autarquias deviam ter um sistema de monitorização que conseguisse saber onde o idoso se encontra e criar uma rede de relações entre as pessoas mais velhas da freguesia, que não passe apenas pelo centro de dia.

“Na verdade, já não bastam o assistencialismo nem as medidas de apoio sazonal, como as que se adoptam no Natal ou nas férias de verão”, comentou, rematando: “as pessoas não vivem apenas entre dois solstícios, vivem o ano inteiro”.

Só este ano já foram encontrados mais de uma dezena de idosos mortos em casa, uma situação que, para Carlos Poiares, revela “a existência de uma sociedade cada vez mais virada para si própria e onde se quebraram vínculos de relações intergeracionais, em que, por questões de mobilidade, residência ou trabalho, as pessoas estão afastadas dos idosos”.

“Isto tem criado situações de isolamento e, por vezes, de autêntico abandono dos idosos”, disse, adiantando, que, nas grandes cidades, há pessoas com muita idade e dificuldades de locomoção que vivem em andares com escadas íngremes e que dificilmente podem vir à rua.

Segundo o psicólogo, estas situações indicam um “sinal de abandono e de desinvestimento da comunidade em relação às pessoas de maior idade”.

“Efectivamente, não se pode deixar de observar que estes acontecimentos apenas são possíveis pela perda do valor fundamental de qualquer sociedade, a solidariedade”, disse, considerando que “não se pode consentir que, mais uma vez, se fechem os olhos como se tudo não passasse de uma inevitabilidade dos tempos contemporâneos e do neo-liberalismo”.

Para o psicólogo, estas situações poderão ser colmatadas de diversas formas, nomeadamente através de uma educação para a cidadania, que “falha cada vez mais nas sociedades contemporâneas”, e a um recurso mais acentuado à rede social e ao trabalho de sinergias, como as autarquias.

“A nossa sociedade está muito mais preocupada com a dívida pública e o lucro do que em questões sociais”, lamentou.