Margarida Cardoso, in Expresso
Com o ouro a atingir máximos históricos e o desemprego em alta, o grupo Valores prepara-se para voltar a dar brilho ao negócio de comercialização e reciclagem de metais precioso. Ao mesmo tempo, lança a nova insígnia i9krédito, focada nos empréstimos sobre penhores porque “é expectável o crescimento da procura”, explica o presidente executivo Judá Chester.
“Este é um negócio exponenciado em períodos de crise”, admite o empresário ao Expresso para justificar o investimento de dois milhões de euros no reforço da sua posição no mercado com uma nova sede, em Braga, uma nova marca dedicada aos empréstimos sobre penhores e novas lojas em todo o país em plena crise pandémica.
“As pessoas começam a procurar cada vez mais liquidez rápida, mas sabemos que muitas vezes querem ter a oportunidade de recuperar os bens que estão a trocar por dinheiro. Acreditamos que depois do verão vai haver um boom neste negócio em Portugal, em linha com o que já se está a passar noutros países, onde o negócio vive um período de franco crescimento”, comenta o empresário.
Em cima da mesa, tem, assim, um cenário que promete replicar o que aconteceu na crise do subprime, quando a rede da Valores, criada em Braga, em 2008, se expandiu a nível nacional para atingir uma rede de 200 lojas próprias ou franchisadas e um volume de negócios superior a €120 milhões em 2012. A empresa chegou até a ter presença internacional, em Espanha, França e México.
Depois, no ciclo de desenvolvimento económico em Portugal e no mundo, a Valores emagreceu. Chegou a 2020 apenas com 30 agências de compra de ouro, mas já em alta. “No ano passado, crescemos 20% e no primeiro trimestre do ano repetimos o salto de 20%”, refere Judá Chester antes de anunciar as suas previsões para o final do ano: mais 50 lojas, um volume de negócios de €20 milhões que compara com os €8 milhões de 2019, 70 novos postos de trabalho a somar aos 43 atuais. Para 2021 a meta é chegar às 230 lojas de norte a sul do país. O Algarve é um dos seus alvos prioritários.
A história mostra que “o ouro é um valor seguro em tempos de crise” e o grupo que se apresenta como o primeiro franchising ibérico de compra, venda e avaliação de valores está pronto a aproveitar a sua experiência nesta área.
Mas se a atividade diária ajudou a confirmar, no passado, que “há pessoas dispostas a vender os anéis para suprir dificuldades ou para manter o poder de compra”, também provou que “há quem aproveite simplesmente a valorização do ouro para vender bens pessoais de forma mais rentável, antecipando o próximo ciclo de quebra e, do outro lado, há, também, quem aposte no ouro como um refúgio para o seu investimento”, refere.
A nova marca i9krédito, que acaba de inaugurar a sua primeira loja em Braga, junto à sede do grupo, abre o segundo espaço, no Porto, em agosto,e ruma a Lisboa e ao sul do país logo de seguida, privilegiando os valores que já são conhecidos do grupo, como ouro, prata, relógios, jóias ou obras de arte mas disponível para alargar os serviços a novas áreas, do colecionismo aos equipamentos informáticos e telemóveis.
Com a crise do subprime, as lojas de compra de ouro foram dos poucos negócios em expansão, registando um ciclo de crescimento desde 2008 que atingiu o pico entre 2011 e 2012. Só em Portugal, os números mostram que abriram mais de 1.500 retalhistas de ourivesaria em dois anos, maioritariamente em redes de franchising.
Desde então, a descida da cotação do ouro e a quebra na procura de particulares que queriam vender os seus bens, ditaram o emagrecimento deste negócio que agora dá sinais de estar a ganhar gás mais uma vez.
A cotação do ouro valorizou 10% num mês e passou esta semana barreira dos 1.950 dólares por onça (1.664 euros), um valor que compara com o máximo histórico de 1.920, 15 dólares por onça registado em setembro de 2011.