A crise económica gerada pela pandemia da covid-19 mudou por completo o panorama nacional do desemprego. O país que depois da última crise financeira de 2009 tinha, finalmente, alcançado níveis de desemprego próximos do estrutural (6,4% em fevereiro) somou repentinamente, e em apenas quatro meses mais de 91 mil novos desempregados inscritos nos centros de emprego. Entre fevereiro (último mês livre da pandemia) e junho, o desemprego aumentou em 86% dos concelhos do país. Há casos em que número dos que ficaram sem trabalho mais do que duplicou.
A análise realizada pelo Expresso aos últimos indicadores do desemprego registado divulgados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) espelham a radiografia de um país que sentiu o impacto da pandemia com diferentes níveis de intensidade. No final de junho estavam registados nos centros de emprego nacionais 406.665 desempregados. O número até traduz uma redução de 2.269 indivíduos face a maio, mas a melhoria sentida no último mês não chega para apagar os efeitos da pandemia no mercado de trabalho nacional.
Desde fevereiro, último mês em que o país escapou ileso aos impactos da pandemia, e até junho o número de novos desempregados inscritos nos centros de emprego nacionais aumentou em mais de 91 mil. A região de Lisboa e Vale do Tejo pagou a maior fatura, com um agravamento do desemprego registado em 42,2% (mais 39 mil desempregados do que em fevereiro). O Algarve foi a segunda região mais afetada pela pandemia. O número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou 36,2%, logo seguido pela região Norte com um aumento de 23,5%. No Centro e no Alentejo a covid e paragem que impôs à economia traduziu-se em aumentos de 23,1% e 21,5%, respetivamente.
Na distribuição por concelhos é possível que a pandemia atingiu o país de forma desigual. A maioria dos concelhos (55%) registaram um aumento do número de inscritos nos centros de emprego inferior a 30%. Mas há dois concelhos - Cadaval e Ponte de Lima - onde o desemprego mais do que duplicou em quatro meses e 29 onde se agravou em mais de 50%. As regiões mais castigadas têm elevada dependência da indústria, comércio e turismo.
De forma transversal, na generalidade dos concelhos do país, são as mulheres as mais afetadas pelo desemprego. E isso a pandemia não mudou. Era assim em fevereiro, continuou a ser em junho. Mas os números espelham bem a dimensão desta desigualdade. Em 13 concelhos do país a percentagem de mulheres em situação de desemprego é mais do dobro da registada entre os homens e em nove concelhos o desemprego feminino supera em pelo menos 50% o masculino.
Neste quadro pintado de incerteza, há 40 concelhos contrariam esta tendência e viram o seu desemprego registado diminuir. Neste grupo estão, por exemplo, Vila Nova de Paiva que tinha em junho menos 26,3% de desempregados inscritos no seu centro de emprego do que fevereiro, Vinhais (-19,2%) ou Oleiros (-16,3%).
Será ainda necessário esperar pelos indicadores dos próximos meses para perceber se esta tendência se mantém. Mas para já, estes concelhos são exceções num país que ainda procura estratégias para combater um desemprego que se antecipa longo e grave.