29.7.20

Taxa de desemprego começou finalmente a subir, atingindo 7% em junho

Sónia M. Lourenço, in Expresso

Pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19, a taxa de desemprego medida pelo Instituto Nacional de Estatística sinaliza o agravamento da situação no mercado de trabalho português. Os dados publicados esta quarta-feira indicam uma subida para 7% em junho, o valor mais alto desde agosto de 2018

 A taxa de desemprego em Portugal subiu de forma marcada em junho, sinalizando os problemas no mercado de trabalho associados à crise económica, na sequência da pandemia de Covid-19. O aumento foi de 1,1 pontos percentuais face a maio, atingindo os 7%, indica a estimativa provisória do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicada esta quarta-feira.

Mais ainda, este é o valor mais elevado observado em Portugal em quase dois anos, desde agosto de 2018.

Os dados mensais do INE não dão informação detalhada, mas, para este aumento, deverá ter contribuído a situação difícil que sectores como o turismo enfrentam nesta altura no país, em particular em regiões como o Algarve.

Este aumento da taxa de desemprego em junho (ddos ajustados de sazonalidade), segue-se a um período em que a taxa de desemprego apurada pelo INE - que segue o conceito internacional da Organização Internacional do Trabalho (OIT), tal como nos outros países europeus - não refletiu o forte aumento do número de desempregados inscritos nos centros de emprego.

Aliás, a taxa de desemprego apurada pelo INE recuou mesmo em maio, para 5,9%.

Uma situação para que os economistas já tinham chamado a atenção, tal como o próprio INE, e que se prende com o conceito de desempregado. Isto porque exige procura ativa de emprego, bem como disponibilidade no imediato para aceitar uma vaga disponível, para além de não ter um posto de trabalho. Condições, que durante o período de confinamento muitas vezes não foram cumpridas, levando muitas pessoas que perderam o emprego a engrossar a fileira dos inativos.

Com o desconfinamento em marcha em Portugal, a situação parece, agora, estar a ficar ultrapassada.

Os dados do INE sinalizam, assim, que em junho (estimativa provisória) o número de desempregados em Portugal subiu 21,2% (mais 61,3 mil pessoas) em relação a maio, atingindo 350,9 mil pessoas.

Já em termos homólogos, isto é, em relação a junho de 2019, o incremento foi de 3% (mais 10 mil pessoas).

Ao mesmo tempo, a taxa de subutilização do trabalho subiu para 15,4%, mais 0,8 pontos percentuais do que em maio e aumentando 2,4 pontos percentuais em relação a junho de 2019.

Recorde-se que os economistas têm chamado a atenção para este indicador complementar de análise do mercado de trabalho, que traduz a taxa de desemprego em sentido lato. Isto porque considera além dos desempregados 'oficiais', também os trabalhadores a tempo parcial que gostariam de trabalhar mais horas, os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuraram ativamente emprego e os inativos que procuraram mas não estavam disponíveis no imediato para ocupar uma vaga.

Recorde-se que este indicador tem vindo a subir sistematicamente desde o início da pandemia.

O INE chama, contudo, a atenção para uma alteração importante na evolução deste indicador. É que para o aumento da taxa de subutilização do trabalho, "ao contrário do sucedido nos meses anteriores, contribuiu exclusivamente o aumento do número de desempregados e do subemprego de trabalhadores a tempo parcial".

Em sentido contrário "diminuiu o número dos inativos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar e o de inativos disponíveis mas que não procuram emprego".

É mais um sinal de que as limitações da taxa de desemprego em traduzir a situação real no mercado de trabalho, sentidas durante a fase de confinamento, parecem estar a ficar para trás.

Por fim, uma nota positiva na evolução do mercado de trabalho em junho: a população empregada aumentou ligeiramente face a maio (mais 0,1%, ou seja, mais 2,6 mil pessoas), atingindo 4,6579 milhões de pessoas.

Um incremento que interrompeu a tendência de queda sucessiva no emprego face ao mês anterior, desde o inicio da pandemia.

Ainda assim, em termos homólogos, verificou-se uma redução acentuada de 3,6% (menos 174,3 mil pessoas).