24.7.20

Região mais atingida pela crise é essencial para a retoma

Pedro Araújo, in JN

Mais de 43 mil empresas nortenhas entraram no regime de lay-off simplificado, mais 5800 do que na Região de Lisboa. Outros indicadores das ajudas de Estado anti-covid vão no mesmo sentido.

O Norte contribui mais para a riqueza nacional em termos industriais, exportando mais em valor do que qualquer outra região. Segundo o economista Guilherme Costa, o plano para a retoma não pode passar por uma solução centralista.

"Os Caminhos da Recuperação Económica em Portugal: Hipóteses a Norte", tema da conferência organizada pelo "Jornal de Notícias" e pela Câmara Municipal do Porto, que se realiza esta sexta-feira no Teatro Municipal Rivoli, pretende partir do presente para projetar a retoma.

E qual é o ponto de partida no Norte? Os números das empresas aderentes ao lay-off, até 23 de junho, já mostram um relativo desnível em desfavor do Norte. O ponto positivo, embora de caráter temporário, é que o lay-off ajudou a atenuar o desemprego na região, que ainda assim cresceu 23,4% em maio, abaixo dos 34% nacionais.

Mas há mais indicadores em desfavor do Norte. O número de pedidos de apoio por parte de trabalhadores independentes foi de 61 356 no Norte (Braga, Bragança, Porto, Viana, Vila Real) e de "apenas" 44 482 na Região de Lisboa.

Por outro lado, o Norte tem um peso superior nas exportações e na indústria e qualquer crise tem aí um reflexo acentuado e, consequentemente, na própria economia do país. O boletim trimestral Norte Conjuntura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento, ontem publicado, mostra uma redução regional de 42,3% das exportações em abril contra um recuo de 39,8% no conjunto do país.

"Há duas macrorregiões industriais em Portugal: Lisboa e Vale do Tejo e o Noroeste Global. Têm características diferentes e os fatores que podem provocar o crescimento numa e noutra região são diferentes. É preciso discutir isto, caso contrário teremos um modelo centralista de solução para a crise, concebido à imagem dos economistas que conhecem melhor o modelo industrial da capital", refere Guilherme Costa, orador da conferência.

Portugal irá receber nos próximos anos (2021-2026) 45 mil milhões do grande pacote europeu anti-covid. O Algarve já sabe que vai ter 300 milhões para minorar a quebra turística. E o Norte? "Nunca virá dinheiro para os projetos críticos que o Norte necessita se centrarmos a discussão na distribuição das verbas", alerta Guilherme Costa.

TAP versus Efacec

"Se a TAP fosse do Norte, não sei se a perceção do problema seria igual e se teria tido a mesma ajuda. Se calhar tinha falido (e se calhar bem, porque não tenho como provada a utilidade de gastar a pipa de massa que se vai gastar ", refere o economista. Reconhece que o mesmo sucedeu com a Efacec, também nacionalizada, mas a dimensão da ajuda financeira não é comparável. "Pode constituir a exceção que confirma a regra", ironiza.

Curiosidades

Indústria

Segundo dados do INE relativos a 2019, o Norte tem 33 569 empresas da indústria transformadora e Lisboa 10 166, isto é, o triplo face à capital. O Norte emprega neste setor 392 860 pessoas, também aqui o triplo do que sucede na região da capital (101 848).

Riqueza

Olhando para o valor acrescentado bruto (VAB) - que não é mais do que o produto interno bruto (PIB) visto na ótica da produção - constata-se que, no ano passado, o Norte foi responsável por 10 mil milhões de euros no caso da indústria transformadora enquanto Lisboa "produziu" 4,9 mil milhões no mesmo setor.

Comércio

No comércio por grosso e a retalho, o Norte tem 81 096 empresas, enquanto Lisboa tem só 53 076 unidades.