24.7.20

"Os fundos comunitários não são um direito de cidadania", alerta Freire de Sousa


Conferência JN
"Os fundos comunitários não são um direito de cidadania", alerta Freire de Sousa
Fernando Freire de Sousa, presidente da CCDRN
Foto Pedro Granadeiro / Global Imagen
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Carla Sofia Luz, in JN

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Freire de Sousa, alerta que "os fundos comunitários não são um direito de cidadania" e, no momento em que estão destinados mais de 45 mil milhões de euros a Portugal, entende que o "acesso" a essas verbas deve depender "da capacidade de fazer algo transformador" com elas.

O líder da CCDR-N defende que "é preciso pensar em coisas novas", fora da caixa, para a região Norte e para o país e ter capacidade de executar bem os milhões europeus à nossa disposição. Para isso, é decisivo que seja traçado um plano com uma calendarização exigente e que a Administração Pública seja capaz de implementá-lo. "É preciso ligar a versão estratégica do trabalho de Artur Costa e Silva com os cardápios" que obrigatoriamente necessitarão de uma "calendarização" muito precisa, considerou, esta sexta-feira, Fernando Freire de Sousa, na conferência JN Os Caminhos da Recuperação Económica em Portugal: Hipóteses a Norte, organizada pelo Jornal de Notícias e pelo Município do Porto e que decorre no Rivoli Teatro.

Os Caminhos da Recuperação Económica em Portugal: Hipóteses a Norte
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Freire de Sousa sustenta que Portugal precisa de ter um "sentido de urgência", sem embarcar em soluções fáceis, para executar os milhões vindos da Europa. Uma "bazuca" milionária que exige uma capacidade de execução superior à que o país tem sido capaz de colocar em prática, para que nenhum cêntimo seja perdido. "A bazuca obriga a duplicar a execução de fundos", avisa.

Hã duas grandes opções na concretização de investimento: uma "iminentemente infraestrutural, assente em obra pública e "na inevitável concentração nos grandes centros e eixos urbanos" e outra mais diversificada, com uma aposta na reindustrialização, na qualificação "sem tréguas", no reforço do sistema de inovação, complementado por uma nova geração de estratégias de valorização económica dos recursos endógenos, sem descurar as políticas sociais, e na construção de alguns equipamentos fundamentais. O caminho a seguir tem de quebrar a rotina e ser transformador. Citando Pedro Abrunhosa, o economista apela a que o país, e em particular a região Norte que tem sido o motor económico da nação em todos períodos de crise, faça o que "ainda não foi feito" e com a celeridade que se exige. "Amanhã pode ser tarde demais", frisa.

Comprometendo-se com a verdade, o presidente da CCDR-N lembra que esta crise, motivada pela pandemia de covid-19 e que combina desafios sociais e de saúde pública, não tem precedentes e "será a maior dos últimos cem anos". Portugal "é um dos países mais vulneráveis da Europa para enfrentá-la" e a recuperação voltará a depender muito da região Norte. "O Norte tem um peso muito relevante na economia nacional e tem liderado sempre as recuperações económicas. O crescimento económico do país depende do Norte", insiste Freire de Sousa.

Essa consciência alimenta, também, o argumento de Domingos de Andrade. Na sessão de abertura da conferência JN, o diretor do Jornal de Notícias atenta na "oportunidade única de transformar o país" e o dinheiro europeu, os "muitos mil milhões de euros" que chegarão ao nosso território nos próximos anos para investimento "não é só de um território. É do país todo". A reflexão, promovida esta sexta-feira pelo JN e pela Câmara do Porto, é plena de oportunidade no momento crítico que vivemos.

"Não podemos ter uma visão centralista para distribuir o dinheiro pelas regiões", sustenta o jornalista. O Norte, enquanto região que mais puxa pela economia, sofrerá com esta crise. É a zona do país com o maior número de empresas a recorrerem ao lay-off (43 mil), a taxa de crescimento do desemprego ronda os 23% e as exportações estão em queda acentuada, acima da média nacional. Por tudo isto, "nõo basta acenar-nos com 300 milhões de euros, como fizeram para o Algarve. É preciso ajudar as empresas a resistir, através de medidas fiscais e sociais", afirma Domingos de Andrade, na certeza de que é imperioso agir para evitar uma "hecatombe social" na rentrée em setembro. "Pode haver milhares de trabalhadores sem um posto de trabalho para regressar no final de agosto". Se o Norte não está forte, "o país é fraco".

Esta conferência visa deixar uma mensagem do Norte para o país, sintetiza Domingos de Andrade: "Contem connosco, contem com o JN também para recuperar a economia. É a nossa obrigação fazê-lo".