23.7.20

Trabalho solitário, antes e depois da pandemia. Uma costureira em tempos de crise

in TSF

Depois de uns ensinamentos como modista e costureira em Lisboa, regressou a Bragança para cumprir a profissão que a preenche. Ester Torrão tem um espaço próprio onde a maior parte do trabalho se centra em fazer peças por medida. A Covid-19 e o confinamento não afetaram em nada a costureira que gosta de trabalhar sozinha e de satisfazer as suas clientes com peças únicas.

Nasceu na pequena aldeia da Matela no concelho de Vimioso. Os estudos não combinavam com ela e depois do chumbo no oitavo, rumou a Lisboa para casa duma tia. " Ela era modista. Fui para lá com a intenção de estudar, de noite e aprender a costura, de dia. Foi o que aconteceu. A prioridade foi a costura, não naquele momento mas passados quatro ou cinco anos dei por mim a perceber que era isto que queria fazer".

E faz, há 22 anos. Nos últimos anos num pequeno atelier das galerias Tuela em Bragança. Lá estão uma máquina de costura, muitos panos, revistas de moda, zona de provas, as agulhas e alfinetes, a obrigatória tesoura e os malfadados dedais. "Estão sempre comigo mas nunca os encontros. Dou voltas à cabeça quando quero um dedal e só o encontro passado oito dias. Há sempre aqui meia dúzia de dedais à mão para eu não perder a cabeça".

Ester Torrão encontra-se melhor com as muitas clientes. O que mais gosta é de fazer peças únicas, por medida. "Sinto-me muito bem neste papel, gosto do que faço, gosto de ver o resultado final. Quando a cliente chega, conjugamos a minha experiência com a ideia que trás e avançamos. Às vezes, a peça, dá uma volta de 180 grau

A quarentena foi um corte no dia-a-dia de trabalho e uma saudável costura nas peças que há anos andava para fazer. "Telefonavam-me para casa para perceber se estava a trabalhar. Acabaram por tirar partido da quarentena para me pedir coisas que queriam fazer, há anos e eu nunca tinha tempo por causa do volume de trabalho no verão, com os vestidos de noiva, batizados, cerimónias, acabava sempre por deixar o dia-a-dia para trás".

A dona Ester tem uma réstia de esperança que a neta lhe siga os passos. Já os filhos, nem por isso. "Nada! A minha filha não sabe coser um botão (risos), o Pedro, às vezes metia-se na máquina mas desistiu. Agora temos uma neta. Pode ser que a Maria Clara, um dia, venha a seguir os passos da avó".

Mesmo assim diz que a profissão é de presente e de futuro para quem a quiser agarrar. "Porque é ma profissão onde nunca há desemprego. É preciso ter jeito e o gostar também ajuda, como em qualquer outra profissão. E temos que nos cobrir, não é? No inverno, no verão não vale a pena (risos), e por isso dá sempre um emprego garantido".