Família de Avintes já liquidou mensalidades de maio e julho, faltando apenas pagar junho. Patrícia e António vivem com a ajuda dos vizinhos e da Junta.
"Tem sido um inferno viver nestas condições!". O desabafo é de Patrícia Ferreira, 29 anos, que em final de maio viu a água ser cortada pela senhoria, em Avintes, Gaia, por ter duas rendas em atraso (700 euros). O marido, António Barbosa, ficou sem trabalho, por conta da covid-19, mas mal arranjou novo emprego, propôs saldar a dívida às prestações. De nada adiantou, porque o acordo não foi aceite. O que vai valendo ao casal - com um bebé de três meses e dois meninos de dois e quatro anos -, é a solidariedade dos vizinhos.
"Quando nos vimos nesta aflição, ainda sugerimos que a senhoria tivesse em conta o mês que pagamos de caução, mas logo respondeu que isso não servia de nada e acabou mesmo por nos cortar a água", contou, revoltado, António.
O casal vive com cerca de 800 euros por mês: 700 euros do salário de António e 99, 12 euros que Patrícia recebe do rendimento social de inserção. "Só para a casa são 350 euros, mais fraldas, leite e iogurtes para os meninos. Como podemos dar de uma só vez 700 euros?! Ficamos sem comer", desabafou Patrícia.
O casal conta com a ajuda de vizinhos que lhes deixam dar banho às crianças. "Mas falta água para tudo o resto: lavar roupa e cozinhar", queixa-se Patrícia.
Com o senhorio a cumprir pena de prisão, é a mulher deste que tem falado com os inquilinos. Mas, segundo o casal, não revela"qualquer sensibilidade".
Desde então, têm tentando tratar do assunto com o advogado do senhorio, que segundo dizem foi perentório: "Enquanto não pagarem a renda que têm em atraso, a água não é ligada".
O JN contactou o causídico, que alegou "sígilo profissional" e, por isso, não comentou o caso.
Sem contador
Inconformados com a situação "insustentável", o casal recorreu à Junta de Avintes, que lhes assegurou o pagamento da renda de maio. António mal recebeu, também já pagou julho, faltando apenas saldar 350 euros do mês de junho. Na sua posse têm duas folhas carimbadas pelo advogado, que comprova a liquidação.
Patrícia destaca que embora tenha assinado um contrato de arrendamento, "que impõe que seja o inquilino a tratar da água, luz, gás e televisão", não consegue colocar o contador da água no seu nome, "porque a senhoria não autoriza".
A Câmara de Gaia afirma que a família não fez um pedido de habitação social na Gaiurb.
É num anexo da casa principal, onde mora a mulher do senhorio que Casimiro Ferreira e a mãe, Efigênia Correia, vivem há dez meses. Foram obrigados a sair do apartamento onde residiam em Mafamude, porque o imóvel iria ser transformado num hostel. "Não conseguimos arranjar melhor!", lamenta o filho.
Como o anexo não tem caixa de correio, os inquilinos queixam-se que "a senhoria fica com toda a correspondência". Efigênia diz que já ficou "sem o fundo de desemprego e uma consulta no Hospital de Gaia". A inquilina também denunciou que a senhoria lhe pediu "50 euros" por cada visita que pernoita em sua casa. O advogado do senhorio referiu ao JN que "desconhece" o caso.