Samuel Silva, in Público on-line
O funcionamento das escolas em horários duplos, com aulas de manhã para umas turmas e de tarde para outras, pode “ser um risco para contenção da covid-19”, acredita o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. A solução também implica constrangimentos para as famílias. Os directores acreditam que serão poucos os agrupamentos a segui-la.
A Direcção-Geral da Saúde recomenda às escolas que os estudantes circunscrevam o máximo possível os contactos aos colegas da mesma turma, para reduzir os riscos de contágio. Com os horários duplos, essa “bolha” rebentará, prevê Filinto Lima: os alunos “terão de passar a outra metade do dia em ATL ou outras soluções semelhantes” e desse modo aumentarão os contactos sociais.
A opção pelo funcionamento das escolas em horário duplo será também “a que mais problemas pode causar aos pais”, reconhece o presidente da ANDAEP. Essa é igualmente uma preocupação da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). As famílias teriam de encontrar “soluções para os alunos na outra metade do dia, sobretudo para os mais novos”, afirma o presidente, Jorge Ascenção.
Nos últimos dias, tem chegado à Confap um “número superior ao desejável” de casos de escolas que querem optar pelo horário desdobrado, o que surpreendeu Ascenção: “Pensamos que esta solução deve ser tomada em casos excepcionais, mas tememos que esteja a tornar-se regra.” A Confap enviou, por isso, um pedido de esclarecimento ao Ministério da Educação.
A tutela ainda não respondeu à Confap. Questionado pelo PÚBLICO, o gabinete do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, limita-se a afirmar que “as escolas estão a elaborar os seus planos de preparação do próximo ano lectivo, no âmbito dos instrumentos de autonomia que possuem e com as orientações enviadas”.
Tanto Filinto Lima, como Manuel Pereira, que preside à Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), a outra associação de directores, acreditam, contudo, que será “pontual” a opção pelo horário duplo nas escolas. Essa solução é viável “sobretudo em zonas urbanas”, antevê o dirigente da ANDE, onde há maior oferta de transportes e proximidade entre os estabelecimentos de ensino e as habitações dos estudantes.
Nas zonas rurais, “muitos alunos vivem a dezenas de quilómetros” do local onde têm aulas e dependem de transportes escolares organizados pelas autarquias, com horários que estão habitualmente concentrados no início e no final do dia. Uma alteração aos horários de funcionamento dos estabelecimentos de ensino implicaria ter de reforçar a rede de transportes para dar resposta aos alunos e as autarquias “não estão dispostas a duplicar os gastos com transportes”, acredita Manuel Pereira.