30.7.20

Pandemia apaga metade do emprego criado nos governos de António Costa

Luís Reis Ribeiro, in DN

Desemprego oficial esteve escondido, mas o desconfinamento começa a revelar a triste realidade. Desaparecerem 181 mil empregos ao todo, desde março.

Quatro meses de pandemia (de março a junho deste ano) apagaram mais de metade da criação de emprego obtida pela economia portuguesa durante os governos PS, de António Costa, indicam cálculos do Dinheiro Vivo com recurso às estimativas mensais de emprego e desemprego, ontem divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com as séries mensais históricas (ajustadas de sazonalidade) do INE, o emprego criado desde que o PS foi para o governo e até às vésperas da pandemia de covid-19 (de dezembro de 2015 a fevereiro de 2020) traduziu-se numa criação líquida de 350,9 mil postos de trabalho. Mas de fevereiro em diante tudo mudou. Com a imposição de confinamento à população e o encerramento de largas partes da economia logo em março, o emprego colapsou imediatamente.

Pelos cálculos do DV, entre março e junho (sendo que o valor deste último mês ainda é provisório, poderá vir a ser mais baixo), desapareceram 180,7 mil postos de trabalho da economia, ou seja, mais de 51% do emprego criado desde dezembro de 2015, o primeiro mês completo do governo de António Costa.

Esta crise apaga também muitos dos ganhos em termos de emprego que precederam o governo do PS. O INE mostra que o nível de emprego atingiu o valor mais baixo das séries em janeiro de 2013, quando este baixou para 4 292 800 de pessoas com trabalho. Estava o país em pleno programa de austeridade e de saneamento do governo PSD-CDS e da troika.

Desde aí, embora com alguns altos e baixos, a tendência do emprego foi claramente de subida. Desde esse ponto mais baixo, Portugal registou uma criação líquida de 546 mil empregos em termos líquidos.

Ora, isto significa que estes quatro meses de pandemia (que ainda não terminou, podendo haver uma segunda vaga) apagou do mapa precisamente um terço desse emprego desde o tempo da troika até fevereiro deste ano.

Ontem, o governo, através do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, comentou os números do INE dizendo que alguns indicadores recentes da atividade das empresas e do emprego "levam a pensar que o ponto mais crítico já passou". "Hoje mesmo tivemos notícias do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) que nos levam a pensar que, de facto, o ponto mais crítico desta contração económica já ficou para trás", afirmou, em declarações aos jornalistas.

O ministro aceitou que existe um "crescimento do número de desempregados", mas contrapôs que "em junho já houve mais ofertas de emprego e mais colocações de trabalhadores do que em maio". "Ainda é muito pouco, mas claramente já existe aqui um abrandamento na subida de desemprego".

Desemprego: o monstro voltou a acordar?

O INE explica que muito desemprego ficou escondido ou adormecido durante os meses da pandemia porque muita gente teve de acatar fortes limitações impostas à sua circulação pelo que não procurou emprego, muitos milhares de contratos de trabalho foram simplesmente suspensos ao abrigo do lay-off, muitas empresas fecharam portas à espera do fim do confinamento, muitas outras já faliram entretanto, pelo que foi interrompida a oferta de empregos.

Os novos desempregados ficaram assim abaixo do radar e não apareceram. O desemprego oficial até desceu nestes meses da pandemia. Mas em junho isso já não acontece. À medida que as pessoas foram tendo mais mobilidade e começaram a procurar emprego, eis que a dura realidade emerge: muitos mais puderam afirmar ao INE que procuraram ativamente trabalho e não encontraram.


De acordo com o INE, "em junho de 2020, a população desempregada - cuja estimativa provisória foi de 350,9 mil pessoas - registou um aumento de 21,2% (61,3 mil) em relação ao mês anterior" e subiu 3% (mais 10 mil casos) face a junho de 2019.

Assim, a taxa de desemprego (dados provisórios) subiu de forma pronunciada em junho, para 7% da população ativa. Ou seja, A taxa de desemprego medida pelo INE ainda deverá subir muito mais este ano. Por exemplo, no orçamento suplementar, o governo prevê uma média anual de 9,6%. A OCDE diz 11,6% e o Banco de Portugal projeta 10,1% no cenário menos adverso.

O INE refere ainda que a taxa de desemprego dos jovens disparou para 25,6% da população ativa com menos de 25 anos. Ou seja, estão sem trabalho mais de 81 mil jovens, revela o instituto a título provisório.

Como referido, o emprego também se está a esvair rapidamente. Depois de ter tombado 3,8% em maio (face a igual mês do ano passado), a população dita empregada voltou a cair 3,6% em junho.
Subaproveitados

Ainda segundo o INE, a taxa de subutilização do trabalho, o melhor indicador para medir os impactos da pandemia no mercado laboral (sobretudo quando houve confinamento ou algumas restrições, algo que hoje ainda acontece), disparou para 14,6% da população em maio e agravou-se ainda mais em junho, estando nessa situação 820 mil pessoas.


Segundo o INE, "a subutilização do trabalho é um indicador que inclui a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar e os inativos disponíveis mas que não procuram emprego".

No fundo, é o indicador que reflete o desemprego em sentido lato ou real, pois agrega desempregados e todos as outras pessoas que estão nas margens do mercado de trabalho ou subaproveitadas. Face a junho de 2019, o número de subutilizados disparou mais de 17%, ou seja, há mais 121 mil pessoas nesta situação marginal, precária, sem conseguir trabalhar.