Opção consta da orientação do Ministério da Educação para as escolas. Directores ponderam adoptar esta sugestão que, para as empresas ouvidas pelo PÚBLICO, é exequível do ponto de vista logístico.
As escolas públicas equacionam adoptar um modelo de cantina que poderá passar por um regime de take-away. Nas últimas semanas, directores e empresas discutem os pormenores de higiene e segurança que deverão ser adoptados no próximo ano lectivo. Esta ideia partiu do Ministério da Educação, que, numa directiva enviada às escolas, sugeriu que as escolas ponderassem o “recurso a refeição na modalidade de take-away”. Os refeitórios são um dos espaços que merecem maior escrutínio em 2020-21, dada a tradicional proximidade entre alunos. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, diz ao PÚBLICO que as opções para o horário das refeições não são muitas.
“Prevejo que, tendo centenas de alunos a almoçar nas escolas, as refeições terão de ser servidas em regime de take-away. Não me parece muito possível [continuar com as refeições normalmente], num espaço tão pequeno, tendo em conta o elevado número de alunos. Vamos ter de privilegiar o take-away. [A opção do horário desencontrado] vai ser muito difícil, mesmo sendo metade dos alunos. A cantina teria de abrir às 10h e fechar às 17h. Para cada turno, é preciso meia hora. Teríamos um período de almoço muito alargado”, explica Filinto Lima.
Mas onde serão consumidos estes almoços? “Nos espaços das escolas, os polivalentes, recintos amplos. Bem mais espaçosos do que a própria cantina, que é sempre um espaço muito limitado. Mas vai depender de cada escola, da orientação. Poderá acontecer que, no caso do pré-escolar, as refeições possam ser tomadas nas próprias salas”, adianta.
Filinto Lima faz um apelo aos pais, dizendo que a melhor opção para os alunos será tomar as refeições em casa, sempre que isso for possível. “Os alunos subsidiados têm de comer na escola, obviamente. Têm dificuldades”, clarifica.
No ensino privado, o director executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, Rodrigo Queiroz e Melo, diz que os colégios estão a estudar alternativas para manter os alunos em segurança nos refeitórios.
“Os colégios estão a desencontrar a hora de almoço. O aluno entra no refeitório e sai quando acaba de almoçar. Agora vai haver maior gestão [do tempo] para o aluno chegar, comer e sair. O refeitório não vai ser um local de convívio onde o aluno possa ficar. Em alguns colégios estão a adaptar-se novos espaços: onde antes era uma sala de multiusos passa a ser onde alguns turnos fazem a sua refeição. Em alguns refeitórios mais pequenos, as refeições vão ser servidas – no caso de alunos mais novos – na própria sala. Provavelmente os menus vão mudar um bocadinho, mantendo sempre o valor nutricional necessário, mas há alimentos tipicamente mais demorados de comer ou que obrigam a mais talheres.”
Take-away é exequível, dizem empresas
Por parte das empresas ouvidas pelo PÚBLICO, o regime take-away nas cantinas não deverá levantar grandes problemas logísticos. Com mais de 800 refeitórios sob o seu controlo no próximo ano lectivo, a Uniself é a gigante do sector: dos contratos celebrados pelo Ministério da Educação em 2017 por um período de três anos, a Uniself recebeu 108,4 milhões de euros.
O director comercial da empresa, João Lobo, afirma num esclarecimento enviado por e-mail ao PÚBLICO que a mudança é possível, alertando apenas para o custo acrescido das embalagens utilizadas para embalar a comida. “Os descartáveis — saqueta com kit de talheres, taça com tampa para prato e taça para sopa com tampa — devem ser biodegradáveis”, explica.
E quanto aos menus? João Lobo diz que terão de ser feitas “pequenas adaptações”, mas garantiu que continuarão a ser seguidos os padrões nutricionais decretados pelo ministério.
Já o gestor de qualidade e ambiente da ICA, empresa que irá gerir cerca de 300 cantinas em 2020-21, diz que ainda é muito cedo para avaliar concretamente os impactos e alterações que as novas directrizes terão. Carlos Damas adianta que o número de pessoal contratado será decidido em função do número de refeições e carga horária que terá de ser cumprida, relembrando que os requisitos de higiene e segurança alimentar cumpridos pela empresa são, desde sempre, muito apertados.