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A socióloga Luísa Oliveira considera que os jovens, as mulheres e os desempregados com idade superior a 35 anos serão os grupos mais atingidos com a degradação social a que se continua a assistir em Portugal.
Poucos dias depois de se conhecer a subida de Portugal para o terceiro lugar entre os países da Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Económica (OCDE) com mais desemprego (13,6 por cento), a investigadora prevê que os jovens sejam os mais afectados com o prolongar da situação de recessão.
«Têm um risco de desemprego três vezes maior» e a emigração, que se tem apresentado como «válvula de escape» para «eventuais convulsões ou situação de exclusão» pode não ser a solução, dada a crise de emprego que se regista na Europa, alerta a professora do Instituto de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE).
Além disso, afirma, «é uma emigração diferente da dos anos 1960», que «não manda as remessas [de poupanças] que aguentaram as finanças públicas muitos anos» em Portugal e que poderá constituir família a ficar nos países de destino.
Acresce que o mercado de emprego europeu da última década diminuiu com as dificuldades comuns a todos os países, incluindo os mais desenvolvidos, havendo mesmo já indicadores de retorno de portugueses que emigraram para países como o Reino Unido, a Alemanha ou a Espanha.
Recorrendo ao último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Luísa Oliveira recorda que no ano passado havia no mundo 74,8 milhões de jovens sem emprego e 6,4 milhões já tinha desistido de procurar trabalho.
«Particularmente grave» é também, na sua óptica, a faixa etária acima dos 35 anos que perde o emprego e, de um modo geral, ficam muitos anos sem conseguir trabalho, deixando de receber qualquer apoio financeiro.
«Sem rendimentos e sem trabalho, o que vai esta gente fazer», interroga-se a especialista em questões de trabalho e emprego, para quem se «devia olhar com particular atenção» para esse grupo que, por outro lado, está ainda distante da idade da reforma.
Outra agravante que surge com os desempregados com mais idade é o facto de serem, em muitos casos, o suporte dos filhos desempregados, que, sem rendimentos, acabam por permanecer em casa dos pais, onde têm alimentação e alojamento.
Se a crise se aprofundar ainda mais, muitos desses pais, que serviam de «almofada» aos filhos, continuarão a ir para o desemprego, como já sucede, com «consequências que podem ser muito gravosas».
«Isso vê-se pela quantidade de famílias que estão a ir à falência», exemplifica Luísa Oliveira.
Quanto às mulheres, têm «sempre taxas de desemprego mais elevadas» que os homens e «desaparecem muitas vezes» das estatísticas, porque «desistem de procurar trabalho» e passam para o «lado informal» da economia, sustenta a socióloga.
Cozinhar em casa para vender, fazer limpezas, cuidar de crianças ou de idosos são actividades pelas quais optam muitas desempregadas, conseguindo assim algum rendimento, sem constarem nas listas de desempregados nem surgirem como trabalhadores activos e contribuintes.
Lusa/SOL