17.2.12

O buraco negro do desemprego

Luís Villalobos, in Público on-line

Os números foram divulgados esta quinta-feira: Há 771 mil desempregados em Portugal. Mas já estão desactualizados, uma vez que se reportam ao quarto trimestre de 2011. Hoje, em meados de Fevereiro, esse valor é certamente superior. E o mais preocupante é que muitos dificilmente voltarão ao mercado de trabalho.

Os indicadores são maus, mas vão ficar pior. Este ano a recessão vai ser muito mais profunda do que foi em 2011, com o consumo em queda livre e empresas a fechar portas ou a cortar postos de trabalho. No caso dos jovens, ou seja, quem tem entre 15 e 24 anos, a taxa, segundo o INE, disparou para os 35,4%. Muitos não conseguem arranjar o primeiro emprego, seja ou não nas suas áreas.

No desemprego de longa duração, mais de 400 mil pessoas não têm trabalho há mais de um ano, e cerca de 1/3 dos 771 mil desempregados estão desocupados há mais de dois anos. Se pensarmos que 227 mil dos desempregados têm mais de 45 anos, começa-se a ter uma ideia do problema: muitos destes nunca mais voltarão ao mercado de trabalho, mesmo com descida de salário e vínculos precários (fenómeno que irá abranger muitos dos que voltarem a ter um emprego).

Não será por falta de vontade, mas sim de oportunidades, porque procuram estar activos. Olhe-se de novo para o que nos espera este ano: o Banco de Portugal estima que sejam aniquilados mais cerca de 80 mil postos de trabalho. E 2013, mesmo que tudo corra bem, não assistirá certamente a um boom de empregos. Se a taxa de desemprego estagnar ou abrandar já será uma boa notícia. Isto numa altura em que vão entrar em vigor as novas regras, com reduções no tempo e valor do subsídio de desemprego, ao mesmo tempo que se sabe que irão passar muitos anos até se voltar aos níveis da taxa de desemprego anteriores a 2008.

Muitas pessoas nem precisam de ouvir o Governo para perceber que uma solução possível é a emigração, mas isso não resolve, de maneira nenhuma, o problema. Não basta dizer que os números são preocupantes, e afirmar que estão a ser tomadas medidas que vão na direcção certa, como defende o Governo, enunciando algumas iniciativas que poderão dinamizar o tecido empresarial. É preciso fazer mais, e depressa, nomeadamente no campo das qualificações.

É fundamental haver uma nova forma de olhar para esta questão, através do IEFP, analisando regionalmente onde e por que se está a gerar desemprego e onde e como se estão criar oportunidades, novas empresas e postos de trabalho. Ou seja, dinamizar a requalificação dos desempregados em sintonia com a realidade, no terreno, com as pessoas e com as empresas, e não decidir de forma administrativa e a nível nacional. Se for preciso investir em mais técnicos, que se invista. Há verbas que têm de ser vistas como investimentos produtivos e não como simplesmente como gastos. Não fazer nada nesta área é deixar crescer o buraco do desemprego, cada vez mais negro, e potenciador de conflitos sociais.