5.2.12

Maioria dos sem-abrigo que quiseram escapar ao frio têm entre 20 e 45 anos

Por Ana Henriques, in Público on-line

A maioria dos sem-abrigo que desde sexta-feira recorreram ao apoio da Câmara de Lisboa para escaparem ao frio têm entre 20 e 45 anos de idade, informou uma assessora de imprensa do município, Luísa Jacobetty.

A informação é confirmada por uma das assistentes sociais que andou nestes dias pelas ruas da cidade a tentar convencer os sem-abrigo a passarem a noite debaixo de tecto. "Os sem-abrigo com dependências [álcool, drogas] estão a ser substituídos por desempregados", explica Marta Ferreira, assistente social do centro de acolhimento do Beato, gerido pela associação de solidariedade Vitae.

Alguns resistiram a largar as ruas, apesar das baixas temperaturas. Segundo o Instituto de Meteorologia, Lisboa desceu até menos de dois graus positivos no final da madrugada de ontem, enquanto os termómetros no Porto bateram no zero. "Nesses casos, de problemas de alcoolismo e de saúde mental, tentámos chamar o 112", conta a assistente social.

A Câmara de Lisboa montou um centro de acolhimento junto ao Areeiro, no pavilhão desportivo do Casal Vistoso, onde serviu comida e bebidas quentes. Daí reencaminhou quem quis para os albergues da cidade. Mas nesta altura do ano as vagas nos abrigos não são muitas. As 171 camas que a Vitae tem no Beato estão cheias, restando à associação montar 20 camas de emergência.

No abrigo da Graça, governado pela Assistência Médica Internacional, só há duas vagas entre as 25 camas. E houve quem preferisse passar a noite no pavilhão desportivo, mesmo tendo casa onde pernoitar. "A minha casa tem muito frio. Meto sete e oito mantas na cama", contou Joaquim Cardoso, de 39 anos. Vitorino Laneiro, de 43, explicou que o pequeno aquecedor que comprou não chega para lhe aquecer o quarto onde mora: "Tenho 13 cobertores na cama e mais dois que me deram ontem."

A vereadora do Desenvolvimento Social, Helena Roseta, disse que além do apoio pontual aos sem-abrigo, o objectivo deste tipo de acções é conseguir que as pessoas aceitem dialogar com os técnicos da autarquia, para saber "se é possível dar-lhes alguma ajuda". "No final destas operações há sempre um saldo de pessoas que conseguimos encaminhar e retirar da rua", acrescentou Helena Roseta. "Não basta dar apoio nos dias em que está muito frio. É preciso proporcionar a cada uma destas pessoas uma opção de vida diferente de vida daquela que eles têm", reforçou. A autarca realçou ainda o facto de haver 1500 pessoas a viverem nas ruas da capital.

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, saber se as urgências do Hospital de S. José registaram casos de hipotermia. O Hospital de Bragança, cidade onde as mínimas desceram aos sete graus abaixo de zero, não tinha ontem qualquer ocorrência deste tipo.

A operação da CML de apoio aos sem-abrigo vai durar até segunda-feira de manhã, altura em que as previsões meteorológicas apontam para uma subida das temperaturas. As previsões apontam também para uma nova descida de temperaturas na quinta-feira e a CML está pronta para reactivar este tipo de apoio.