5.6.12

Maior parte dos seropositivos ainda "não dá a cara" em Portugal

Por Paula Torres de Carvalho, in Público on-line

Passados 20 anos da criação da associação Abraço que apoia as pessoas afectadas com o VIH/sida, a "maior parte dos seropositivos e dos doentes não dá a cara" em Portugal, diz ao PÚBLICO Margarida Martins, presidente da associação que comemora duas décadas de existência esta terça-feira.

Continuam a existir muitos casos de discriminação nas escolas e nos locais de trabalho e há ainda "muito medo". As mudanças traduzem-se "numa pequena mudança de mentalidades" e a posição contra a discriminação desenvolve-se frequentemente ao nível do "politicamente correcto", diz Margarida Martins.

"O estigma continua a ser enorme", notam os responsáveis da associação que já tomaram conhecimento de situações de doentes "que ainda não tomam a medicação à frente da família". Num país em que, segundo os números mais recentes, há 42.000 seropositivos e doentes com sida registados, a Abraço manifesta preocupação relativamente aos casos escondidos, visto que "a maioria dos portugueses" ainda não fez o teste de sida, "o que poderá significar que os números existentes sejam mais elevados".

Muitos dos seropositivos portugueses "iniciam o tratamento demasiado tarde, já com doenças oportunistas, tendo muitas vezes continuado a transmitir o VIH durante anos", alertam os responsáveis da Abraço.

Entre as principais preocupações apontadas pela associação, constam "as dificuldades e barreiras levantadas à gestão e controlo da infecção pelo vírus VIH/sida, quer no que diz respeito à à prevenção e diagnóstico, quer em relação ao acompanhamento e tratamentos de pessoas infectadas". Em particular, referem o "deficiente investimento na prevenção da infecção VIH/sida"; "o deficiente conhecimento do "estado da arte" em Portugal quanto à verdadeira extensão da epidemia"; "dificuldades de acesso aos cuidados de saúde devido ao fecho de consultas em ambulatório ou ao bloqueio à admissão de novos doentes"; "implementação de práticas de distribuição de medicamentos não-recomendadas" e "adopção de estratégias pontuais ou alargadas a vários serviços hospitalares que limitam o acesso dos doentes apenas a algumas alternativas terapêuticas".

A Abraço defende, por isso, a realização de um programa nacional de prevenção, nomeadamente nas escolas portuguesas. "É importante clarificar que a SIDA não é uma doença associada a grupos de risco, mas sim a comportamentos de risco", afirmam.