Por Ana Rita Faria, in Público on-line
O antigo ministro das Finanças avisa que se o Estado social continuar a levar “machadadas”, Portugal ficará numa situação de “grande precariedade”.
Medina Carreira, que está a participar numa conferência na Assembleia da República sobre “Um ano do programa de assistência financeira – balanço e perspectivas”, deixou alertas sobre a crescente perdas de poderes do Estado e, nomeadamente, sobre os riscos que se colocam ao Estado social. Para o ex-governante, o crescimento da economia portuguesa previsto pelo Governo e pela troika é uma “miragem”, o que deverá debilitar ainda mais o Estado social.
“O Estado perdeu poderes, não manipula juros, câmbios, circulação de capitais. A soberania do Estado é hoje inexistente. Não adianta pregar contra o neoliberalismo. No estado a que o Estado chegou, não se lhe pode pedir muito”, afirmou o antigo governante socialista, no seminário organizado pela Comissão Eventual para Acompanhamento das Medidas do Programa de Assistência Financeira a Portugal.
Medina Carreira diz que o acordo de assistência financeira teve “a virtude de nos colocar a viver mais próximos do que valemos”, o que tornou claro os problemas do Estado social. “Durante os últimos anos, era óbvio que o Estado social caminhava para o colapso”, defende, dizendo que “os senhores políticos apenas puderam olhar para o lado enquanto havia dinheiro emprestado”.
E deixou o aviso: “Se o Estado social for sendo posto em causa e levando machadadas, chegaremos a 2015 ou 2020 numa situação de grande precariedade”.
O ex-ministro dá como exemplo alguns números: nos últimos 20 anos, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em média 1,8%, a despesa primária do Estado cresceu 4%, as despesas sociais cresceram 5,6%, as pensões 6,6% e os impostos 3%.
“Ou pomos a economia a crescer ou reduzimos as despesas sociais”, conclui Medina Carreira, dizendo que, no actual contexto económico e com o actual programa da troika, pôr a economia a crescer “é uma miragem”. Na próxima década, estima, a economia portuguesa poderá, na melhor das hipóteses, crescer 1%.