4.2.12

Centros de emprego colocam menos 11% de desempregados e por um salário mais baixo

por Raquel Martins, in Público online

Em 2011, os centros de emprego arranjaram trabalho a 55.566 desempregados, menos 11% do que em 2010. Os salários oferecidos baixaram 1,6%.

A contracção do mercado de trabalho está a ter efeitos também na actividade do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Em 2011, os centros de emprego angariaram menos ofertas de trabalho e colocaram menos desempregados do que em 2010. Além disso, o salário médio pago aos que voltaram a entrar na vida activa caiu 1,6%.

Os dados solicitados ao IEFP mostram que 2011 - marcado por taxas de desemprego recorde e por uma forte contracção económica - registou uma travagem a fundo na captação de ofertas de emprego. Ao longo de todo o ano, os centros registaram 99.488 ofertas, menos 20,3% do que no ano anterior. As colocações também foram afectadas e sofreram um declínio de 11%: 55.566 desempregados voltaram a trabalhar graças à intervenção dos centros do IEFP.

Porém, nem o facto de se estar em crise levou a que todas as ofertas fossem preenchidas e continua a ser evidente que os centros de emprego têm dificuldades em encontrar saída paraa maioria dos mais de 600 mil desempregados registados. O regresso ao mercado de trabalho faz-se essencialmente por expedientes próprios. O IEFP dá conta de 133.891 auto-colocações, mas também aqui se verifica uma forte redução de 16,8% face a 2010.

Francisco Madelino, que até Dezembro presidiu ao IEFP, encontra duas explicações para estes resultados. "Há razões conjunturais que se prendem com a degradação da situação económica e com a consequente redução de novos empregos. Do ponto de vista institucional, a incerteza associada ao período eleitoral e à entrada do novo Governo também afectou a actividade", sustentou.

O novo presidente, Octávio Oliveira, acrescenta ainda que durante o ano de 2011, houve um grande fluxo de inscritos e a necessidade de os técnicos passarem a acompanhar as entrevistas, o que acabou por "roubar" alguns recursos da tarefa de ajustamento entre a oferta e a procura, o que poderá também influenciar os resultados.

O salário pago aos desempregados que conseguiram voltar ao mercado de trabalho também sofreu com a contracção económica. Os dados fornecidos ao PÚBLICO mostram que a remuneração paga aos desempregados colocados a tempo completo - que são a maioria - caiu 1,6%. Quem arranjou trabalho foi ganhar em média 532,69 euros, menos nove euros do que no ano anterior, mas ainda assim mais 48 euros do que quem recebe o salário mínimo.

As colocações espelham também a realidade do mercado de trabalho em Portugal, que na última década viu aumentar o peso dos contratos a termo no total dos trabalhadores por conta de outrem. Dos 55.566 desempregados que conseguiram trabalho através do IEFP, 77,2% (42.918) tinham contrato a termo e apenas 22,8% (12648) foram colocados com vínculo permanentes. O peso da contratação a prazo no total teve um aumento de cinco pontos percentuais face ao ano anterior.

Apesar dos esforços em alargar o espectro das ofertas, as colocações ocorreram sobretudo no sector dos serviços e em actividades pouco qualificadas. Os dados mostram que 55,8% dos desempregados foram encaminhados para as actividades imobiliárias e administrativas, hotelaria e restauração, comércio e para as actividades de saúde, educação e apoio social. Ao contrário de anos anteriores, a construção civil e a indústria - sectores fustigados pela crise económica - deixaram de figurar entre as actividades que mais desempregados absorveram.

Meta superada

No ano passado os técnicos de emprego acompanharam 113.251 desempregados nas entrevistas para arranjar trabalho, superando a meta de 50 mil, definida pelo anterior Governo. Os números solicitados ao Ministério da Economia revelam que mais de metade do acompanhamento ocorreu nos centros de emprego de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte, que são também os que registam maior número de desempregados. A decisão de acompanhar as entrevistas foi tomada pelo anterior executivo, com o objectivo de perceber por que razão muitas ofertas ficam desertas.