4.2.12

Empresas saídas das universidades são às centenas e o número continua a crescer

Por Andrea Cunha Freitas, in Público on-line

Enquanto a crise faz cair vários indicadores económicos, há alguns territórios que parecem imunes à depressão. Os pequenos ou micronegócios da inovação estão a multiplicar-se no país.

São pequenos ou micronegócios em fase de arranque intimamente ligados à inovação e, na maioria, "filhos" das universidades. Chamam-lhes spin-offs ou start-ups e são cada vez mais em Portugal. Só na Universidade do Porto (UP), esta promessa de negócio reunia cinco projectos em 2007 - hoje já soma 106. Mas há mais exemplos. Ontem, em Coimbra, foi apresentado um resultado concreto da inovação nacional, com o lançamento do primeiro fármaco produzido numa universidade portuguesa.

Os dados fornecidos pela Universidade do Porto são os mais expressivos, mas não são os únicos que demonstram o crescimento das spin-offs ligadas a instituições de ensino superior público e não só. A Universidade do Minho (UM) tem um registo igualmente assinalável, tendo aumentado de seis em 2005 para 43 em 2011. Para obter um retrato mais claro desta realidade, a UM avançou no ano passado para um inquérito que quis "mapear todo o universo empresarial que tenha tido por base a formação superior na academia" e concluiu que existiam 113 empresas criadas nas quais pelo menos um dos sócios é actual ou ex-aluno, docente ou investigador desta universidade. Contas feitas, são projectos que representam 362 milhões de euros em volume de negócio e 2226 postos de trabalho.

Na Universidade de Coimbra, o crescimento parece ser mais tímido, mas, ainda assim, significativo, com o registo de nove spin-off sem 2004 e 22 em 2010, a que se juntam mais 15 start-ups na órbita do Instituto Pedro Nunes. Em Aveiro, foram criadas 28 spin-offs entre 2006 e 2011, existindo ainda 12 empresas deste tipo na incubadora da universidade.

A Universidade de Lisboa parece ficar aquém deste "volume de negócios", dando conta da criação de "quatro spin-offs no último ano". No Instituto Superior Técnico, depois do avanço em 2009 da comunidade na área de Transferência de Tecnologia, há actualmente 37 spin-offs.

São números que demonstram claramente uma área em crescimento mas que não traduzem as dificuldades nem os bons ou maus resultados deste universo. Sobre isso, a Agência de Inovação apresentou em Novembro um trabalho com os resultados das spin-offs por si apoiadas e que podem servir de indicadores gerais. Assim, numa avaliação da última década, verificou-se que a taxa de crescimento média anual das spin-offs relativamente a vendas era de 11%, contra os dois por cento negativos das "outras empresas". O mesmo se passava ao nível das exportações.

Saúde é área-chave

A área da Saúde será uma das mais exploradas por estas pequenas e microempresas. Em Abril de 2008, o Health Cluster Portugal (HCP) iniciava a sua missão de internacionalizar a saúde nacional com 55 parceiros. Hoje reúne 125 instituições e mantém o objectivo de lançar cinco novos medicamentos portugueses até 2020. "É óbvio que a actual situação económica não é risonha para ninguém, mas, em relação aos nossos parceiros, as coisas não pararam", refere Joaquim Cunha, director executivo do HCP.

A produção do radiofármaco desenvolvido a partir da Universidade de Coimbra não o surpreende. "Vamos ter mais notícias deste género vindas da academia e empresas", reage, adiantando que, nos próximos anos, deverão surgir medicamentos inovadores desenvolvidos em Portugal para a área do cancro e das doenças cardiovasculares.

Ainda que não tenha dados precisos, Joaquim Cunha afirma que as exportações portuguesas na área farmacêutica, de dispositivos médicos, meios auxiliares de diagnóstico e soluções informáticas "estão em franco crescimento". "O mercado da inovação está a borbulhar. Temos recursos humanos altamente qualificados nas academias que, com esta crise, começam a ir à luta e criam empresas. A transferência do conhecimento para o mercado está a fazer o seu caminho."