2.2.12

Como a pobreza ganhou terreno nas classes médias

in Expresso

Dimitris Pavlópulos tem uma pensão mensal de 550 euros e gasta em medicamentos cerca de 150. O corte de subsídios aos gastos com farmácia obriga-o a escolher entre comprar um litro de leite (1,50 euros) ou aviar uma das receitas que a sua doença exige, porque lhe é impossível suportar as duas despesas.

Manuel G. é um desempregado de longa duração que tem saudades do "mileurismo" das primeiras investidas da crise. Perdeu o emprego de administrativo há três anos e já esgotou o prazo em que recebia subsídio de desemprego. Sem rede familiar, vive num quarto alugado e recorre às cantinas sociais e às doações de roupa de uma ONG.

São as vítimas da crise: setores da sociedade que há apenas um lustro faziam parte da classe média, ou média-baixa, são hoje novos pobres. Pessoas que têm de escolher entre uma refeição quente por dia ou aquecer a casa, entre pagar a hipoteca ou comer.

Casos que dinamitam a tradicional imagem da pobreza ligada à mendicidade, agora a pobreza associa-se à normalidade. "Os voluntários de antigamente são hoje os nossos beneficiários", explica Jorge Nuño, secretário-geral da Cáritas Europa.

Segundo números da União Europeia, em 2009 havia 115 milhões de pessoas em risco de pobreza e exclusão social no território dos Vinte e Sete (23,1% da população), "sem contar com os 100 ou 150 milhões que estavam no fio da navalha", explica Nuño, "porque dois meses de desemprego e uma hipoteca às costas empurram para baixo toda a gente".

Em 2007, estavam abaixo do limiar da pobreza 85 milhões de cidadãos europeus (17% da população). Na lista figuram países como a Grécia, a Espanha ou a Irlanda, "mas também França, Alemanha ou Áustria", sublinha Nuño.

Os exemplos mostram as razões que estão a deixar cada vez mais cidadãos na pobreza: endividamento familiar, falência de Estados pródigos em subsídios ou a existência de trabalhos de má qualidade, como os milhões de empregos perdidos na construção civil em Espanha.