3.2.12

"São sem-abrigo porque querem", diz presidente da Câmara de Braga

in Jornal de Notícias

O presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado, garantiu, esta quinta-feira, que naquela cidade só dorme na rua quem quer, alegando que a delegação local da Cruz Vermelha Portuguesa tem uma estrutura de acolhimento.

"São sem-abrigo porque querem, são sem abrigo voluntários", disse aos jornalistas Mesquita Machado.

À Lusa, Francisco Rocha, 50 anos, que há oito meses dorme ao relento na cidade de Braga, tendo actualmente como "abrigo" os claustros da Sé Catedral, contrapôs que "a coisa que mais queria era ter uma cama quentinha para dormir".

"Acha que alguém dorme na rua porque quer, com um frio destes, que até corta?", questiona, garantindo que vai "de imediato" à Cruz Vermelha, à procura de um tecto.

Braga é um dos dez distritos que o Instituto de Meteorologia colocou esta quinta-feira em alerta laranja, o segundo mais grave, devido à persistência do tempo frio.

Questionado pelos jornalistas sobre a existência de um eventual plano de contingência para acudir aos sem abrigo da cidade, Mesquita Machado respondeu que ali só dorme na rua quem quer.

Disse que a Cruz Vermelha dispõe de um centro de acolhimento para os sem abrigo, admitindo que, eventualmente, há pessoas que se recusam a procurar aquele refúgio.

"Certamente já estão avisados que vai haver mais frio e têm naturalmente de precaver-se dessa situação. Se calhar, está na altura de abandonarem o ar livre e irem para um alojamento coberto", disse ainda o autarca.

Segundo a vereadora da Acção Social da Câmara de Braga, não haverá mais de dez sem abrigo nas ruas da cidade.

Francisco Rocha é um deles e garante que não é porque quer que dorme ao relento, mas sim porque não tem "para onde ir". "O frio, aqui, é de cortar", atira.

Uma pensão de 100 euros é tudo o que tem para se governar durante um mês, sobrevivendo à custa de uma ou outra esmola que os transeuntes sempre lhe vão dando.

Se o Francisco procura a Sé para se abrigar, outros, como o Manuel ou o João, fazem a cama nas Arcadas, na praça mais central da cidade, ou no edifício da Estradas de Portugal.

Durante o dia, todos se empenham na recolha de mais e mais cartão, que as noites que se avizinham prometem ser particularmente geladas e "um homem não é de ferro".

"O nosso corpo já está calejado, mas aqui o frio, quando aperta, aperta mesmo", confessa Francisco.