7.2.12

A vida de um casal de Abrantes sem emprego com um subsídio de 419 euros

in o Mirante

O desemprego entrou sem anunciar na casa dos Marques, uma família com dois filhos menores que tenta sobreviver ao ano de todas as crises com 419 euros do subsídio de desemprego de Paulo, canalizador de profissão.

Com 44 anos de idade e "quase trinta" como canalizador, "a profissão que adorava" e sempre considerou "à prova de desemprego", Paulo Marques contou à Agência Lusa que todos os dias tenta "conviver com a ideia" de estar no desemprego e nunca perder a esperança num amanhã diferente.

"Ainda não percebo o que aconteceu, sempre tive trabalho graças a uma profissão que adorava e que era respeitada por todos. Agora nem uma torneira há para arranjar", lamentou.

A empresa onde Paulo trabalhava faliu em Agosto do ano passado e hoje o único rendimento é o subsídio de desemprego. Paula, hoje doméstica e sem rendimento, havia tentado explorar um pequeno negócio ligado à agricultura. Sem sucesso.

"O que vem do subsídio é para pagar o empréstimo da casa, quase 250 euros", observa, somando num papel as despesas com água, luz e gás. Pouco sobra.

"Deixei de fumar e telemóvel só [utilizo] quando é mesmo necessário", notou, sublinhando a importância da ajuda prestada por pais e sogros.

"Vivemos em boa medida de produtos hortícolas que nos mandam lá da horta, de animais de capoeira que criam e de algum dinheiro que também conseguem disponibilizar. De resto, mais nada", conta Paulo Marques.

Paula Marques, 42 anos, interrompe para dizer que, por vezes, dá por si a "pensar no que dar aos filhos para comer" e "como é difícil conseguir fazer a gestão daquilo que não há".

Compras, assegura, só açúcar, pão, leite e cereais - "o essencial para os pequenos" -, a quem tenta dar refeições à base de sopa e equilibradas com peixe e carne, nos dias em que tal é possível.

Os filhos, de 13 e 7 anos, "estão a crescer" e "necessitam mais" do que os pais. "Por vezes, quando o Paulo pergunta o que é o almoço, é que não sei bem o que responder", reconhece.

Na casa dos Marques o dinheiro "nunca chega para nada" - roupa, calçado ou medicamentos estão sempre em falta, e com os filhos em idade de crescer.

"O que me custa mais é quando os pequenos pedem qualquer coisa próprio da idade deles e eu peço para esperarem porque a situação não está fácil. E eles compreendem que a situação não está fácil para ninguém", assegura Paulo, que se afirma triste e sem perspetivas.

"Principalmente porque me sinto desprotegido. Nunca pensei que a parte do desemprego me viesse a calhar a mim, mas foi o que aconteceu", disse, tendo acrescentado "não ver o que possa surgir de bom nos próximos seis meses".

Paulo já esteve emigrado - "pequenos trabalhos sazonais" -, condição que procura evitar para poder "dar atenção e acompanhar" o crescimento dos dois filhos.

"Não gostava de sair de cá mas, se tiver de o fazer, terei de dar corda aos sapatos", admitiu.