18.6.12

Cerca de 800 mil pessoas forçadas a abandonar os seus países no ano passado

in Jornal de Notícias
Cerca de 800 mil pessoas viram-se forçadas a abandonar os seus países no ano passado, o maior número registado nos últimos onze anos, informou, este domingo, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

No relatório divulgado hoje, intitulado "Um ano de crises", o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) refere ainda que, em 2011, outros 3,5 milhões de pessoas, não abandonaram os seus países, mas tiveram de sair de suas casas, num aumento de deslocados internos da ordem dos 20 por cento, comparativamente a 2010.

Somados os dois números, 2011 originou 4,3 milhões de "novos deslocados, devido a conflitos ou perseguições", resume a agência da ONU.

Pelo quinto ano consecutivo, o número global de deslocados, externos ou internos, ultrapassou os 40 milhões - 42,5 milhões, dos quais 25,9 milhões recebiam proteção e assistência do ACNUR no final de 2011, mais 700 mil do que em 2010.

O mesmo relatório contabiliza em três quartos o número de refugiados em situação prolongada: 7,1 milhões de pessoas que foram acolhidas em 26 países diferentes.

Os designados países em desenvolvimento acolhiam, no final do ano passado, quatro quintos dos refugiados do mundo e 2,3 milhões deles viviam nos 48 países menos desenvolvidos.

O Paquistão alberga o maior número de refugiados (1,7 milhões), seguido do Irão (887 mil) e da Síria (755 mil).

Quase metade dos refugiados sob proteção do ACNUR vive em países com um produto interno bruto abaixo dos três mil dólares.

O Afeganistão mantém-se na liderança dos países de origem de refugiados, com 2,7 milhões de cidadãos espalhados por 79 Estados. Em média, um em cada quatro refugiados é originário do Afeganistão (95 por cento dos quais estão no Paquistão e no Irão).

Segue-se o Iraque, com 1,4 milhões de refugiados, a Somália, com 1,1 milhões, o Sudão, com 500 mil, e a República Democrática do Congo, com 491 mil.

Em 2011, 532 mil refugiados regressaram voluntariamente aos seus países, mais do dobro do que em 2010, mas este não deixa de ser o terceiro registo mais baixo da última década.

Já os mais de 3,2 milhões de deslocados internos que conseguiram regressar a casa são a maior taxa em mais de uma década.

Os escritórios do ACNUR receberam um décimo dos pedidos individuais de asilo apresentados em todo o mundo no ano de 2011 (total de mais de 876 mil), acolhidos principalmente na África do Sul, Estados Unidos e França.

O número de menores, sobretudo do Afeganistão e da Somália, que pediu asilo "aumentou substancialmente" em 2011, representando 34 por cento dos pedidos (mais de 17 mil) em 69 países.

Mulheres e meninas constituem 48 por cento dos refugiados e metade dos deslocados internos.

De visita a Quito, no Equador, no domingo, o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o português António Guterres, apelou à comunidade internacional para que combata "vigorosamente as manifestações de xenofobia e racismo que estão a emergir em distintas partes do mundo".

António Guterres -- que está em Quito no âmbito das celebrações do Dia Mundial do Refugiado, que se celebra na quarta-feira -- lamentou a proliferação de conflitos, mas sublinhou que, "se as novas crises se multiplicam, as velhas parecem não querer morrer".

"É necessário que a tolerância vença, que saibamos viver em conjunto, que se compreenda a diversidade como uma riqueza", defendeu o alto comissário.