Leonete Botelho, in Público on-line
O primeiro-ministro português foi a Haia e Budapeste, duas das capitais mais difíceis de convencer sobre o plano de recuperação comunitário para a crise gerada pela covid-19, e deixou perceber que ainda falta alguma “vontade política”.
O primeiro-ministro português esteve nos últimos dias nas capitais da Hungria e dos Países Baixos, dois dos países com reivindicações mais exigentes sobre o plano de recuperação comunitário para a crise gerada pela covid-19, e deixou perceber que ainda há um caminho a percorrer para que possa haver acordo na cimeira de líderes extraordinária que começa na sexta-feira.
Nesta terça-feira, à saída do encontro com Viktor Orbán, António Costa foi lacónico e afirmou-se um “optimista impenitente”, ou seja, não arrependido, usando o argumento da inevitabilidade para que o consenso seja alcançado já este fim-de-semana.
“Não vejo razão, desde que haja vontade política, para que não haja acordo na União Europeia”, disse, referindo-se ao tal ingrediente fundamental para o consenso: “Não conseguirei perceber porque é que não haverá vontade política face a esta situação dramática que todos estamos a sofrer, não apenas do ponto de vista sanitário, mas também económico e do emprego”.
“A ideia de que podemos adiar o acordo é uma decisão que nenhum cidadão europeu vai perceber”, argumentou, insistindo que “é o próprio mercado interno que está paralisado. Enquanto isto não arrancar, nada arranca”.
Tal como na véspera, em Haia, António Costa nada revelou sobre o conteúdo da conversa com o seu homólogo húngaro, Viktor Orbán, mas teve de recorrer ao “optimismo” em vez da confiança com que saíra do encontro com Mark Rutte. Na segunda-feira, disse sair dos Países Baixos “mais confiante” num acordo, por ter sentido também “claramente” no seu homólogo holandês “uma grande vontade” num compromisso.
Rutte é o principal rosto dos países “frugais”, cujas posições mais divergem das de Portugal em matéria orçamental, e no final da reunião António Costa disse que subscreve a proposta do presidente do Conselho Europeu de manter os polémicos “rebates”, os “descontos” de que beneficiam grandes contribuintes líquidos, como a Holanda, se Mark Rutte aceitar o montante da coesão proposto.
Quanto à posição da Hungria, Costa dissera na véspera que Orbán “tem uma posição divergente da nossa” relativamente ao fundo de recuperação e próxima de alguns dos países que entendem que deve haver sobretudo empréstimos e não transferências. Mas o ponto mais difícil politicamente, e do qual não falou, pode ser a exigência húngara de não haver custos políticos quanto ao cumprimento das regras do Estado de direito.