30.5.08

Condições sociais afectam alunos que alcançaram o Secundário

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

São fundamentalmente mulheres, mostram-se pouco interessados em política ou religião, fogem da Matemática, metade não têm computador em casa, vão mais a pé para a escola e muitos pertencem a famílias monoparentais. As variações em torno desta realidade pintada em traços grossos dependem fundamentalmente do tipo de curso que escolheram quando chegaram ao Secundário.

Os dados foram revelados pelo Observatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário (OTES) no relatório "Estudantes à Entrada do Nível Secundário de Ensino". O estudo contou com a colaboração de 11 estabelecimentos de ensino e a participação de 1806 alunos do 10.º ano ou equivalente, através de um questionário on-line.

A maior parte dos alunos que chegam ao Ensino Secundário são, de facto, do sexo feminino (66,6%) e mais de metade dos que frequentam cursos científico-humanísticos (58,3%) pertencem a famílias monoparentais, percentagem que não é negligenciável nos cursos de educação e formação (CEF- 44,4%) nem nos cursos profissionais (40,9%). Mais de metade (58,3%) vai a pé para a escola nos científico-humanísticos e 50% dos que frequentam os CEF.. Uma parte significativa não quer saber de política nem de associações religiosas.

Habilitações

O estudo revela ainda que uma grande parte dos alunos que chega ao 10.º ano advém de estratos socioeconómicos onde as habilitações escolares são iguais ou superiores ao Ensino Secundário, mas só no caso dos estudantes que seguem cursos científico-humanísticos ou de ensino artístico especializado (Artes Visuais e Audiovisuais). O nível de escolaridade dominante nas famílias dos alunos que frequentam os CEF é o 1.º ciclo do Ensino Básico (57,1%) e no caso dos cursos profissionais a percentagem aproxima-se dos 40%.

Quanto às condições perante o trabalho na família, o inquérito mostra que só metade dos alunos dos CEF é que tem os dois encarregados de educação empregados e 57,9% no caso dos cursos profissionais. Nos científico-humanísticos, 25% dos alunos não têm os dois pais a trabalhar.

No caso de metade dos alunos dos CEF, a profissão dominante na respectiva família encaixa na categoria de "trabalhadores não qualificados", percentagem que é de 33,3% para os discentes do Secundário que optaram por cursos profissionais.

Quanto ao percurso académico percorrido pelos alunos que acabaram de chegar ao Secundário (entre 16 e 18 anos), todos os que optaram pelos CEF dizem que chumbaram duas vezes, situação que se aplica a 43,8% do universo daqueles que enveredaram pelos cursos profissionais.

A maior parte dos alunos que está nos cursos científico-humanísticos (72,7%) teve a nota de 2 (na escala de 0 a 5), no 9.º ano ou equivalente, e todos os inquiridos dos CEF declararam ter tido a nota mínima de passagem, situação que piora no caso dos cursos profissionais (só 46,2% tiveram a nota de 3).

Os alunos foram igualmente inquiridos sobre as condições proporcionadas pelas habitações da família. Percentagens entre 92 e 78% declararam ter espaços próprios para estudar, mas curiosamente 9,1% dos alunos dizem não ter luz eléctrica em casa, percentual que sobe 16,7% nos CEF e 14,3% nos profissionais. Nestes dois últimos tipos de curso do Secundário, mais de metade não tem computador em casa, situação que ocorre em apenas 36,4% das casas de alunos a frequentar a área científico-humanística.

O OTES inquiriu também os alunos constantes da amostra sobre o interesse ou desinteresse sobre assuntos abrangidos pela comunicação social. A informação geral, a cultura, o entretenimento e a música interessam a quase todos, independentemente do tipo de curso que se encontram a frequentar. A política não interessa a mais de metade dos alunos, posição que só melhora um pouco no caso dos alunos dos cursos profissionais (33,3% acha a política desinteressante). Metade dos que estão nos CEF e profissionais não gostaria de integrar uma associação de solidariedade social. Nas Humanidades, o desinteresse é de 88,9%.