31.5.08

Pobreza: Não há provas de que situação melhorou desde 2004, diz Manuel Alegre

in Jornal de Notícias

Manuel Alegre afirmou hoje que "não há provas de que haja hoje menos pobreza do que em 2004", data do estudo recentemente divulgado sobre os índices de desigualdade em Portugal e que gerou polémica no último debate quinzenal no Parlamento.

No debate de quinta-feira, José Sócrates alegou que "não é verdade" que as desigualdades e a pobreza estejam a aumentar em Portugal: "Tenho aqui um outro quadro, entre 1995 tínhamos 23 por cento de portugueses em risco de pobreza, em 2004 tínhamos 20 por cento, em 2005 19 por cento e em 2006 18 por cento".

Hoje, à margem de um debate no Porto, Manuel Alegre, ex-candidato independente à Presidência da República, afirmou que se é verdade que o estudo se refere à situação em 2004 é também verdade que "não há indicadores que demonstrem que a situação é hoje melhor".

"Também não podemos provar que é pior, não sabemos se é melhor ou pior", acrescentou.

Questionado sobre o porquê da sua participação prevista em acções conjuntas com representantes de outras forças de esquerda, Manuel Alegre considerou que neste sector do espectro ideológico tem havido "muito monólogo e pouco debate".

"Se há desigualdades, se há pobreza, a esquerda, a do PS e a outra, tem de criar pontes, diálogo, para encontrar soluções alternativas", disse, garantindo que recusa alimentar qualquer polémica com o próprio PS.

"Isto não é só guerra, não é só sangue. Há muita gente a viver mal em Portugal, em dificuldades, e a classe média está a empobrecer. É preciso encontrar soluções para isso", frisou.

Já no debate, Manuel Alegre defendeu o direito do Estado a "renacionalizar" empresas e criticou a tendência para "diabolizar o que é público e divinizar o que é privado".

O ex-candidato presidencial afirmou que "pode haver situações em sejam necessárias nacionalizações para a própria sobrevivência da democracia".

"Não estou a dizer que tenha de haver, mas sim que a esquerda tem de ter coragem de encarar essa hipótese", afirmou.

Mais tarde, questionado durante o debate, explicou que o seu conceito de nacionalizar "não é voltar ao Estado a produzir tudo, com um colectivismo dos aparelhos de produção".

"Quero é um Estado que assuma as suas responsabilidades de combater as desigualdades. O Estado a renacionalizar empresas não é pecado nem o Tratado de Roma o proíbe", frisou.

A nacionalização ou não de empresas, num momento em que se fala mais da privatização dos últimos resquícios da presença do Estado no tecido económico, passa "pela grande questão, o grande combate da esquerda, que é saber se é possível ou não outra lógica na economia. Esta é uma diferença entre esquerda e direita e é uma questão ideológica".

Manuel Alegre considerou que é importante "não aceitar a humilhação do Estado face à sociedade civil".

MSP.

Lusa/Fim