Jorge Heitor, in Jornal Público
Vão ser criados tribunais especiais para julgar as pessoas detidas
pela perseguição a cidadãos estrangeiros
Mais de 26 mil cidadãos de Moçambique já regressaram nas últimas duas semanas ao seu país, devido aos ataques de xenofobia na vizinha República da África do Sul e que causaram pelo menos 50 mortos, todos estrangeiros a viver neste país.
Três centros de trânsito foram estabelecidos em Moçambique para ajudar os retornados da violência, disse o director do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, João Ribeiro, citado pela imprensa sul-africana.
O Governo moçambicano, nesta situação de emergência, tem estado a fornecer transporte e acomodação a pessoas forçadas pelas circunstâncias a deixar a África do Sul, onde mais de 25 mil estrangeiros se recolheram em centros de acolhimento, por se considerarem em perigo de vida. Moçambique recebeu também pelo menos cinco mil cidadãos zimbabweanos, que fugiram da África do Sul pelas mesmas razões. Foram alugados 19 autocarros para transportar os retornados, enquanto outros viajam de comboio até Maputo. Entretanto, na África do Sul, vão ser criados tribunais especiais para julgar as pessoas detidas pelos actos de violência.
Apelo à tolerância
Emigrantes de Moçambique e do Zimbabwe têm sido os mais afectados pelas perseguições, depois de acusados de roubarem postos de trabalho aos nacionais e de cometerem crimes, numa situação que já levou o chefe adjunto do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais, Frans Cronje, a comentar não se compreender quem está a dirigir o país, dando a entender que o Presidente, Thabo Mbeki, não mostra capacidade de liderança.
O presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), Jacob Zuma, afirmou na região de Joanesburgo, onde andou no domingo a visitar as zonas mais afectadas, que "todas as pessoas na África do Sul devem ser tolerantes umas com as outras, pois a luta não resolve os problemas, antes os exacerba".
A sua deslocação foi uma tentativa do partido maioritário para acalmar os ânimos, enquanto em Lisboa o secretário de estado português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, questionava a origem dos ataques: "Há indicações que sugerem que não terão sido totalmente espontâneos", disse. Essa versão fora já defendida na semana passada pelos serviços secretos sul-africanos, de acordo com os quais na origem dos motins estariam pessoas ligadas ao antigo sistema de apartheid.
O presidente do Movimento Democrático Unido (UDM), Bantu Holomisa, considerou ser necessário um inquérito transparente para pôr fim às suspeitas de que os ataques têm sido "deliberados e orquestrados".