in Jornal Público
Organizações de apoio às vítimas dos ataques preocupadas com condições de vida nos campos "provisórios"
O Governo da África do Sul admitiu ontem pela primeira vez, desde o início da onda de xenofobia em bairros do centro e subúrbios de Joanesburgo e da Cidade do Cabo, a 11 de Maio, que esses acontecimentos tornavam urgente acelerar os programas de luta contra a pobreza e o desemprego no país. "Acusar e atacar os estrangeiros" pelas privações que afectavam as pessoas "não era uma forma aceitável de manifestar inquietações", reconheceu.
Esta posição, expressa em comunicado, representa um claro avanço relativamente à recusa anterior do Governo em associar os actos xenófobos à miséria de uma grande parte da população, considerou a agência AFP.
Num encontro com jornalistas ontem, o porta-voz governamental Themba Maseko acrescentou a esse comunicado as conclusões a que tinha chegado o conselho de ministros reunido na véspera à noite, entre elas, que a violência não pode ser atribuída a um só factor, e que é demasiado cedo para dizer que uma "terceira força" estaria por detrás da violência, como chegou a ser dito pelos serviços secretos na semana passada.
O Governo, reunido na ausência do Presidente Thabo Mbeki (na cimeira sobre desenvolvimento, organizada pelo Japão em Tóquio e por isso também criticado por falta de empenho em resolver o problema) garantiu ainda que uma das prioridades do Governo seria conter os ataques e julgar em "tribunais especiais" de forma expedita os responsáveis. "A mensagem para as nossas forças de segurança é clara: nenhuma violência será tolerada", disse Themba Maseko, citado pela agência de notícias sul-
-africana SAPA.
A outra prioridade seria assegurar os cuidados básicos das populações deslocadas, não esclarecendo, porém, se os "campos temporários de segurança" já criados para albergar as pessoas desalojadas eram formalmente "campos de deslocados" como anunciado pelos media na véspera.
Com a acalmia dos últimos dias, as organizações de ajuda aos deslocados e refugiados estão agora mais preocupadas com as condições em que vivem as mais de 80 mil pessoas que perderam as suas casas, muitas delas incendiadas.
Há estimativas que apontam para mais de 100 mil deslocados. Alguns deles tinham já obtido autorizações de residência ou cidadania da África do Sul.
Estima-se que pelo menos 50 mil pessoas ficaram sem casa, mas permaneceram na África do Sul, às quais se juntarão outros 32 mil - moçambicanos, zimbabweanos e de outras nacionalidades africanas - que foram acolhidos em Moçambique nos últimos dias.
Em Moçambique, os preços de alguns produtos alimentares poderão sofrer um agravamento nos próximos dias, devido à ruptura dos stocks agrícolas na África do Sul, noticiou em Maputo o jornal mediaFAX. A.D.C
80
mil pessoas, no mínimo, foram desalojadas pela violência que varreu alguns subúrbios de Joanesburgo e Cidade do Cabo